Dadadada-dadada-dadadada
Como qualquer outra história, esta começa num bar, bem
húmido e fedorento, com os mais desprezíveis membros da sociedade lá nele
enfiados. O bar chamava-se o “Chacal Molhado”, conhecido por ser empestado por
todo o tipo de escumalha. Assassinos, ladrões e todo o tipo de rufias e
presidentes da republica empestavam este local, portanto era de estranhar
quando oficiais do Rei entravam no buraco e vamos admitir, deixava muita gente
nervosa quando o fazia. Portanto quando o Grande Padre do Santo Sacramento do Milho
entra escoltado por meia dúzia de guardas de elite, ninguém estranhava o
cintilar de armas debaixo da mesa. Eu cá nem me deixei ficar nervosa como
muitos outros dos meus colegas de profissão, apenas deixei soltar um riso
ruidoso ao pensar no quanto fácil seria enfiar uma navalha por entre as falhas
na armadura e usava os seus corpos como acento para os pés enquanto lia o
jornal. Mas estou a divagar.
Voltando ao assunto em questão, os homens entraram e nem
olharam duas vezes, deslocando-se logo para o seu alvo. Para mim. Em preparação
sorvi toda a cerveja que tinha na caneca e pus-me a rodar uma faca na mesa só
para causar boa impressão.
O Padre chegou à beira da minha mesa e olhou-me com cara de
poucos amigos.
- Leiva, assumo?
Fingi surpresa e para fazer a minha reacção o menos
autentica possível cuspi toda a cerveja que tinha para cima do Padre. Enquanto
ouvi muita gente no bar a rir, os guardas não ficaram muito satisfeitos, tanto
que desembainharam as suas espadas e apontaram-me à garganta.
- Rapazes, rapazes, é assim que se trata uma menina? –
Defendi-me com um sorriso inocente. – Ainda por cima com o susto que me
causaram nem pude saborear o resto da minha bebida. – Debrucei-me ligeiramente
para a frente e os guardas reagiram, acabando com a espadas a roçar-me na
garganta. – O que ao menos podiam fazer era pagar aqui à donzela uma rodada
extra.
- Paguem à catraia mais uma cerveja, e tragam uma para mim
também. – Falou o padre com um à vontade desconcertante.
- Isso mesmo. – Retorqui apontando com uma navalha apontada
às minhas cicatrizes. – Desde este belo serviço que um rapaz não me paga uma
bebida. Então senhor Padre regente de tudo o que é quinta e cereal, o que é que
precisa de uma velhaca criminosa descriminada não possuidora de…
- Só milho. – Disse o Padre calmamente.
- O quê?
- Só milho. Só sou regente sobre o milho. – Explicou o Padre
ao mesmo tempo que chegavam as bebidas. – O trigo, e o centeio são outra
história, já para não falar da farinha de arroz.
- Sim, a complexidade dos cereais e as suas farinhas, mas
não é para isso que estamos a falar. Na realidade até é, pois… A minha cabeça às
vezes divaga. – Desculpou-se o padre.
- Eu entendo. Neste momento se ouvir bem está a haver uma
conversa sobre algo que é “puro ouro”. E o padre não faz a mínima ideia de o
quanto me apetece rouba-la. – Aproveitei para confessar, já que estava em
frente a um padre.
O padre franziu o sobrolho e nesse momento duas canecas
chegaram à mesa.
- Obrigado amor. – Agradeci ao guarda, fazendo questão de
piscar o olho direito que era o que estava marcado de cicatrizes e
surpreendentemente o homem por debaixo da armadura mostrou sinais de embaraço. –
Hmm… Pelo que parece ainda estou boa para as curvas. – Respondi mostrando o meu
melhor sorriso e dando o maior trago que eu conseguia da cerveja.
- Por mais que os meus guardas apreciem os seus namoricos,
não é por isso que estamos aqui. – Crispou o padre mostrando sinais de irritação.
- Eu sei, eu sei, mas desculpe-me padre.
Estava farta. Levantei-me e dirigi-me para a mesa de onde
estava a ouvir todo aquele burburinho. Quando me aproximei nem pensei duas
vezes, peguei na minha navalha e cravei-a no meio da mesa dizendo o mais
lentamente e austeramente possível.
- Vocês param de falar no valor de ouro? Jeesh! Sabem o que é
que essas coisas fazem a uma miúda como eu? Vá lá, pode não combinar com os
meus olhos mas com este cabelo?! Ui, não há nada que não combine com ele. - Ninguém
me respondeu e o silêncio fez-me reparar que tinha interrompido algo de um
grupo bastante estranho, até nem entendia o que metade de eles era.
- Que antipática! – Disse uma voz estridente. – Ainda me
pergunto porque é que estamos neste sítio fechado e escuro quando podíamos ter
uma bela fogueira ao ar livre a comer bagas, fruta e deliciosa relva. No
entanto temos de estar aqui, ainda por cima a ser insultados! Só não lhe dou um
coice porque não quero estragar a manicura destes cascos e vocês não sabem o
quanto trabalho dá…
- Cala a boca Dead! – Interromperam os seus companheiros em uníssono
- Uma corça acabou de me
responder?! Vamos ignorar que é metade de uma mulher, é uma corça! – Balbuciei estupefacta.
- Eu não sou uma… – A criatura
respondeu de volta mas eu cortei-lhe o pio imediatamente.
- Não quero saber! Eu estou a
falar com uma corça… Desculpem ter-vos incomodado, não sabia que as coisas
estavam assim complicadas.
Virei costas e corri dali para
fora. Havia tanta criatura estranha naquela mistura que até tive medo de
apanhar uma doença. Um deles não estava de boa cor e acho que tinha pedaços a
cair. Devia ser um daqueles marroquinos que todos falam.
- Leproso. – Disse o padre.
- Desculpe?
- Querias dizer leproso.
- Wow. Não sabia que os padres
podiam ler a mente das pessoas! – Expantei-me com tamanho poder.
- Eu não te li a mente. Tu é que
estavas a disparatar isso tudo em alto e bom som. – Explicou o padre.
- Ai foi? Desculpe sua iminência. Eu
às vezes distraio-me. – Desculpei-me. – Você sabe… Sítios onde estar… coisas
para destruir… cenas para roubar… o que me faz lembrar do rubi da tiara da
princesa de Luria. Sabe o quanto aquilo pode valer?
- Estou a ver que perdi o meu
tempo com uma debilitada mental. Nem metade das coisas que contam sobre esta
mulher são verdade. É uma idiota, uma parva. – Queixou-se o padre para os seus
guardas, ficando em silêncio por um bom bocado como se esperasse que
acontecesse alguma coisa. – Guardas, prendam-na. Uns dias nos calabouços vão ajuda-la
a melhorar essa cabeça.
Eu não ofereci resistência. Quando
os guardas me pegaram até fiz a gentileza de me meter mais próxima do que me
tinha pagado a bebida, o rapaz cheirava a novo e eu quase que conseguia sentir
o sabor do seu nervosismo. E lá fui arrastada pelos rapazes em armaduras
prateadas, sobre aquele soalho sujo e empestado de cerveja derramada que até
colava às solas dos pés enquanto o sagrado Padre do Milho arrastava o meu nome
por um sitio mais sujo que este chão. Até que ele tocou no assunto perfeito.
“Ainda dizem que é uma mestre
criminosa. Aposto que aquelas cicatrizes são de não saber agarrar num garfo”
- Vinte de ouro, dezassete de
prata e umas trinta e duas de cobre. – Disse-lhe cripticamente e com o meu
melhor sorriso.
- O que é que queres dizer com
isso? – Inquiriu o padre antes de passar a porta da taberna.
- Se os teus meninos me soltarem e
eu poder acabar a tua bebida, eu explico que esse é o teu conteúdo da tua bolsa
de dinheiro. E antes que perguntes, acho que o facto de estar a ser presa só
porque não gostas da maneira como falo é uma boa altura para eu parar com as
cortesias. – Expliquei tudo com o mesmo sorriso o tempo todo.
- Como é que tu… – Tentou falar
outra vez mas eu interrompi-o.
- Numa questão de segundos eu
posso desarmar o nosso querido novato à minha esquerda e acabar por acabar com
a carreira militar do pançudo à minha direita com qualquer coisa pelo joelho. –
Continuei. – E já para não falar que posso mandar sua reverente eminência de Avati
com algo mais no robe do que cerveja e proveniente de um dos seus amigos que me
está a agarrar. Portanto, é melhor que me parem de tratar como uma criminosa de
segunda categoria e mostrem um pouco de medo e respeito ou eu vou ter de
mostrar que eu não gosto de ficar mal-humorada.
4 comentários:
Vá la companheiros contem as vossa histórias. Já cresceram cada um para o seu lado. Que tal voçês fazerem um encontro para se verem de novo. "Lunátioco", "Vargtid", "Nerzhul"... Os amigos são para a vida inteira.
"Cambada" (sem ofença) de preguiçosos
Já tinha saudades das vossas histórias. É para continuar. Não deixem morrer o "Imperialium"
Os meus advogados vão ouvir sobre isto! Marco Boi, você
vai ter o que merece!
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