segunda-feira, junho 09, 2008

Dream Black

Prologo - Parte 2


Ela deslocou-se para perto da rapariga que instintivamente tentou fugir rastejando pela erva, mas foi incapacitada pela Mariana que lhe agarrou pela perna e puxou-a para si. Imobilizou-a e forçou-a a olhar-lhe nos olhos, pegando nas pernas com duas mãos, nos braços com outras duas, enquanto que uma das restantes agarrava na face. A rapariga chorava incessantemente, mantinha os olhos severamente fechados pelo terror e o medo enquanto balbuciava com terror:

- Por favor, não... não...

- O que é que achas que te vou fazer? – Perguntou a Mariana enquanto lhe inspeccionava o corpo coberto de feridas.

- Não... eu não quero morrer – Repetia a rapariga.

- Abre os olhos. – Ordenou.

Tremendo nos seus braços, a rapariga acabou por abrir os olhos, dado a Mariana a oportunidade de ver o aspecto espelhado deles.

- Só me faltava esta.

Com um suspiro a Marina largou a rapariga que caiu imediatamente no chão como se desprovida de qualquer força, apenas mantinha as mãos na cara continuando a sua lamúria.

O cheiro do sangue era demasiado intenso, talvez Mariana tivesse exagerado no isco, com um odor destes não seria só um lobisomem que iria ser levado até ali e muito provavelmente seria a presença desta criatura que afastaria outros perigos. Agora o sangue intoxicado pela prata escorria pelo corpo da monstruosa criatura e não havia nada mais forte para atrair perigo do que o fresco cheiro da morte. Ciente disso, a Mariana sabia que não havia outra opção, precisava de sair dali antes que algo as encontrasse.

- Levanta-te, temos de sair daqui rapidamente. – Disse Mariana pegando no seu casaco, telemóvel e mochila.

- Embora?! – Gritou – O meu namorado está na floresta, tenho de o encontrar!

- O teu namorado já não interessa. Nestas situações salva-se quem se puder e neste momento eu posso salvar-te a ti.

- Mas… Mas… não o posso deixar. – Lamuriou-se

- Poder é uma coisa, agora, se não quiseres, posso deixar-te aqui. – Argumentou Mariana retirando uma das suas pistolas. – Agora considera o seguinte: vens comigo e eu ajudo-te, ou fica, mas ficas com uma bala entre os olhos.

- Porquê?... porque é que isto me está a acontecer... – Lamentou-se.

- Suponho que isso seja um sim. E se te conforta, foi só estares no local errado à hora errada. – Respondeu-lhe Mariana enquanto digitava um número no seu telemóvel. – Daqui é a agente Virna, a missão está completa, o lobo foi caçado.

- Muito bom trabalho Virna, estás dispensada, retorna à cidade. – Respondeu-lhe a voz do outro lado.

- Temos um problema, quer dizer, dois. Fiz contacto com um dos dois alvos na floresta, ela está infectada com o Lycaen.

- Pode ser salva? – Questionou friamente o homem com quem ela falava.

- Pode, ainda está consciente, um pouco assustada mas está bem, o vírus vai demorar a tomar conta do corpo, mas até ao nascer da lua de amanhã já a tenho segura. – Explicou Mariana, não tirando os olhos da cara, assustada e confusa da sua agora protegida.

- E o outro alvo?

- Não tive contacto, presumo morto.

- Presumes nada! Não te esqueças do que estamos a lidar!

- Então enviem uma equipa de reconhecimento. O meu trabalho acabou por hoje! – Retorquiu a Mariana.

- Certo... de qualquer maneira, o Xavier será avisado. Dirige-te para a loja imediatamente.

- Certo. – Disse a Mariana com algum desdém, desligando o telemóvel sem qualquer outra palavra. – Tu, recompõe-te e prepara-te que temos um bom caminho pela frente.

Ela não disse mais nada e de cabeça baixa levantou-se sem oferecer qualquer resistência. A Mariana estranhou essa submissão assim tão repentina, mas não contestou, a situação já era complicada para ela, portanto para uma pessoa que não pertencia ao Outro Lado de repente ver-se envolvida em tamanha confusão deveria ser algo cansativo para a mente.

Desta vez não havia razões para estar alerta, o perigo maior já tinha sido extreminado e qualquer outra pequena ameça seria atraida para clareira primeiro, caso conseguisse sentir a presença de duas criaturas vivas para alem do intenso cheiro a morte lá encontrado, seria tarde demais para as presseguir. Portanto, apenas com a atenção virada para se a rapariga não se desviava do caminho ou tentava fugir, a Mariana tomou rapidamente o trilho de volta para o seu carro. Foi uma marcha rapida e em poucos minutos já avistavam a estrada. A Mariana aproximou-se do carro, abrindo de seguida a porta do passageiro e esperou pela rapariga que se manteve imovel por uns instantes antes de questionar:

- Para onde me levas?

- Para um sítio seguro. – Respondeu Mariana.

Ela manteve os olhos cravados na rapariga, era necessário que ela entrasse no carro mas não era o lugar de Mariana obrigá-la, a decisão precisava de ser tomada pela rapariga e por mais ninguém. Sentiu-se a tensão e o medo a deslizarem pelo ar e por uns instantes a rapariga pareceu vacilar, mas finalmente, com uma expressão pesada e devastada pela atribulação desta noite, ela decidiu confiar nesta estranha e meteu-se no carro.

A viagem foi feita em silêncio, nada para alem do passar de carros perturbava o ambiente que estava a crescer entre as duas mulheres. Uma delas estava assustada, sentia-se uma estranha num mundo que julgava conhecer, aquilo que mais gostava tinha sido arrancado de si e agora entregava a sua sorte a uma estranha, simplesmente esperando que este pesadelo acabasse o mais rápido possível. Do outro lado estava a Mariana, ciente do que ela sentia, mas não conseguia entender. Ela tinha nascido no Outro Lado e não conhecia nenhuma outra realidade para alem dessa, portanto não entendia o choque de ter a Ilusão rompida, não entendia a queda no desconhecido que os humanos sofriam quando lançados, pelo destino, pelo acaso, ou por muito má sorte, para o Outro Lado e achava reacções como estas algo descabido, talvez fosse fria demais, mas era assim que ela via o mundo e por não existiam palavras de conforto vindas dela neste momento.

As luzes dispersas da estrada envolveram o carro ao tornarem-se luzes da cidade, os ruídos da noite invadiram o silêncio do carro fazendo a rapariga espevitar um pouco. As duas criaturas dentro do veículo olhavam para a cidade em sua volta com olhos diferentes, cada uma com a sua visão do mundo, uns olhos viam criaturas disformes a passearem pela noite, enquanto que os outros apenas viam simples humanos, eram duas visões da vida e do mundo mas apenas uma delas estava prestes a mudar.

Continua...

Coisa:
Coisa 1: Não estou muito satisfeito com este por isso é que deixo aqui o aviso: haverá (de haver) modificações no post
Coisa 2: dado a eu estar pouco satisfeito com isto, agradeceria criticas e sugestões e afins.

sexta-feira, junho 06, 2008

Dream Black

Prologo - Parte 1

Um leve rachar de ramos e folhas ouvia-se debaixo dos seus pés à medida que ela caminhava pela floresta, os seus olhos e os ouvidos atentos a qualquer distúrbio. Qualquer som, desde o vento a bater nas folhas, até aos pequenos animais que passeavam pela floresta lhe faziam levantar a arma. Apesar de ser um pouco frustrante cada vez que ela acabava com a arma apontada a um mocho ou outro tipo de criatura, ela sabia que todo o cuidado era pouco, não estava a lutar num local conhecido, tinha poucas balas e estava à caça de uma criatura violenta e descontrolada, como se isso não bastasse, ainda não lhe tinham confirmado que a área estava segura, o risco de encontrar inocentes, ou pior, ignorantes à Ilusão, era quase inexistente, no entanto, pequeno ou grande, era um risco a ter em conta.

Seguidamente à sua pequena mas demorada caminhada pela orla da floresta, ela chegou a uma pequena clareira onde que a lua, cheia e prateada, inundava-a com a sua luz, no seu centro havia um trilho de relva queimada, ao observar com mais atenção conseguia ver-se que o trilho queimado fazia um padrão especifico. “Deve ser esta a marca” pensou Mariana deixando cair o seu casaco e a mochila, esticando os braços de seguida. A mochila estava ensopada em sangue e já pingava, talvez ela tivesse sorte mas era muito pouco provável que ele não tivesse sentido o cheiro até agora, portanto ela teria de trabalhar rapidamente para sua segurança. Era altura de tirar a limpo as ordens, portanto pegou no seu telemóvel e decidiu confirmar, um toque bastou até uma voz no outro lado falar com ela:

- Boa noite Mariana. Então, o nosso lobisomem está morto?

- Não tive contacto com ele e ainda nem tive a clarificação da área estar limpa. – Respondeu ela rapidamente enquanto abria a mochila, era nestas alturas que os seus quatro braços extra davam jeito.

- A área não está limpa e não vai estar, a equipa encontrou dois alvos mas não os conseguimos remover. – Do outro lado da linha havia uma conversa de fundo enquanto que a Mariana tirava pedaços de carne da mochila e espalhava-os pela clareira. – - Estás autorizada pelo Conselho a romper a Ilusão, elimina esse lobisomem e quero qualquer humano com que entres em contacto capturado, estamos entendidos?

- Não esperava nada mais, adeus Júlio, um beijo.

Após desligar o telemóvel lançou-o gentilmente contra o chão, afastou a mochila retirando uma garrafa cheia de sangue, despejou esse sangue no chão em forma de círculo e colocou-se no centro. Ambas as suas mãos inferiores agarravam uma pistola, as suas médias mantinham-se esticadas horizontalmente como se a sentir o ar e outra vez as superiores agarravam uma outra arma. Ela inspirou fundo, o cheiro fresco da floresta tinha sido substituído por um intenso odor a sangue e a carne, ao sentir esse cheiro sorriu sabendo que não haveria outra hipótese se não o lobo ser atraído para a caçadora.

Ela esperou vários minutos até algo se mexer na densa floresta para alem dos ruídos dos animais, ruídos esses que Mariana já se tinha abstraído. Abrindo os olhos, agora coberto por uma película preta, via a noite noutras cores, o azul da floresta era apenas perturbado por pequenas manchas avermelhadas dos animais, até que irrompeu uma mancha de tamanho humano, atrás dela algo monstruoso perseguía-a. Ela esperou e respirou fundo. A figura humana passou pelas ultimas arvores antes da clareira e veio ajoelhar-se aos pés de Mariana, gritando, implorando com voz de mulher assustada.

- Vem algo atrás de mim! Atacou o meu namorado, por favor! Ajude-me! Por favor. – Enquanto isso puxava-lhe por um dos braços.

- Cala-te! Larga-me! – Gritou a Mariana para a fugitiva encostando-lhe uma das armas à cabeça, fazendo a rapariga quedar-se em silêncio, aterrada com a criatura que estava à sua frente, enquanto com a outra arma seguia a indicação térmica do lobisomem que as circundava.

Ela ainda não podia disparar, ele não tinha entrado na clareira fazendo com que qualquer tiro tivesse uma forte possibilidade de falhar ao embater numa árvore e as balas de prata que ela possuía eram só aquelas que tinha nos cartuchos. Ao seu lado, a rapariga quase morta de terror desfazia-se em lágrimas até ao momento em que a arma que lhe foi retirada da cabeça para seguir o verdadeiro alvo.

O lobisomem evitava avançar, talvez intrigado com a visão de outra criatura no decorrer da sua caça, ou talvez estranhando o intenso cheiro a carne e sangue, mas independentemente da razão, ele bufava e rosnava enquanto se deslocava de um lado para o outro nos limites da clareira. A Mariana não tirava o olhar dele. Já não era o primeiro lobisomem com quem ela se debatia e para ela não passavam de animais enraivecidos, mais cedo ou mais tarde ela sabia que ele iria investir. O que não tardou muito. Apoiando-se em árvores para impulso a enorme criatura, espumando de fúria e com um uivo louco, saltou da escuridão em direcção à Mariana, com as suas enormes garras e dentes afiados prontos a rasgar e triturar ossos. Tudo aconteceu num piscar de olhos. Em pleno salto o corpo da criatura absorveu quatro balas fazendo-a cair e rebolar pelo chão. Antes de sequer se levantar, a sua caçadora correu para cima dele e sem mais nenhum som para alem do rasgar do disparo das suas duas pistolas a vida do lobisomem acabou.

Um suspiro vindo da boca de Mariana corta o silêncio arrepiante que tinha seguídos seus últimos disparos, em seguida a unida coisa que se ouve é o incessante lamurio da rapariga que tinha fugido desta criatura o que faz lembrar Mariana da sua segunda missão.

Continua...


Coisa:
Coisa 1: Isto terá continuação directa, portanto será um pouco confuso ler a segunda parte sem ter alguma recordação desta.
Coisa 2: O prologo não terá sentido nenhum com o inicio da historia em si, mas fará mais sentido conforme a historia for avançando (ainda não decidi se a irei postar mesmo)
Coisa 3: A Saga da lua, não está esquecida e o próximo post virá em breve!
Coisa 4: Isto não tem muito pouco humor, até me arrisco a dizer que não tem nenhum. Peço imensa desculpa.