quarta-feira, agosto 20, 2008

JAVA 8.0: O louco do mar

Final do Capítulo 6.0: O petisco de Gre~Ay


A batalha terminara e Gre~Ay mastigava violentamente os seus tremoços com os dentes da frente, com os lábios bem abertos, tentando fazer-me inveja e salpicar-me. “Não-te-dô-u! Não-te-dô-u! Lava a cara com chulô...u!” cantarolava ele com a boca cheia e ar triunfante.

“SILÊNCIO!”, gritou-me ele apesar de eu não ter dito nada. “Espera até eu passar aos torresmos”, disse do lado de lá do bufete, junto à zona dos petiscos.

“Quero lá saber, nem gosto de torresmos...”, berrei da minha gaiola.

A criatura engravatada parou o que estava a fazer e voou na minha direcção com o pé em riste, desferindo-me uma patada violenta na cara. O meu sangue espalhou-se pelo refeitório do zigurate, transformando arrozes à valenciana em arrozes de cabidela.

“Isto....” disse ele, puxando lustre à bota e levantando-se repentinamente, “é um atacador!”

Quando ergueu o atacador eu abri a boca de pasmo. Era de facto um atacador grandioso em belíssimo estado. Aquela bota é sem dúvida abençoada, porque atacadores como aqueles não se encontram em qualquer lado. Maravilhei-me com aquele atacador durante alguns segundos, segundos esses em que até o mais ínfimo pensamento se limpou da minha mente, e eu fiquei uns centímetros mais próximo da pureza de espírito. Viva o atacador!!



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JAVA 8.0: O louco do mar


Com Gre~Ay a correr no nosso enlace, fechámos os olhos e atirámo-nos do topo da cascata. Caímos durante longos segundos até ao nível do mar e demos à praia inconscientes. Quando acordei, Éspe jazia a meu lado com o pescoço partido, as suas cordas seguravam-lhe o seu último fio de via como… cordas e ele murmurou para mim baixinho: “Não poderás prosseguir continuando a carregar-me como um peso morto. Terás de continuar sem mim.”

“Não, ” disse eu contendo as lágrimas. “sem ti não será o mesmo!”

“Vai, talvez nos encontremos um dia que voltes ao teu mundo. Não te esqueças, usa a colher.” disse enigmaticamente, e com um último powerchord em Dó, despediu-se.

Chorando, esfreguei a colher de pau que roubara do zigurate de Gre~Ay. Esta colher de pau, qual boné do Mighty Max, teletransportou-me para um sítio onde eu nunca antes estivera. Estava agora dentro de uma cave bolorenta que se abanava e rangia ao som das ondas. No ar misturava-se o cheiro a sal com o cheiro a bolor e pólvora seca.



Subi as escadas e cheguei ao convés de um barco pirata. Três piratas que aparentemente estavam a grelhar salsichas do tipo frankfurt pararam o que estavam a fazer e olharam para mim estupefactos. Um deles dirigiu-se a mim.

“Olá, o meu nome é Fernão de Magalhães! Bem vindo ao meu cruzeiro intercontinental! Espero que a viagem esteja do seu agrado e se precisar de alguma coisa, disponha sempre!”

“E que tal um batido de caju?”

Magalhães estala os dedos e um dos piratas que estava a grelhar as salsichas desapareceu rapidamente da nossa vista, para trás do balcão de um bar.

“Então e de onde vem, caro visitante?”

Contei-lhe rapidamente a minha história. Ele ficou maravilhado ao saber que eu provavelmente viajara no tempo para chegar ali, mas nenhum de nós sabia muito bem como teria sido isso possível. Foi somente após algum tempo que ele me perguntou se sabia qual seria o resultado da sua viagem. Lembrei-me então das aulas de programação do Grande Mestre J~Ap e contei-as a Magalhães.

“Bem, se bem me lembro, a sua viagem será a primeira a circum-navegar o globo terrestre.”

“A sério? Mas eu não tenho vontade nenhuma de fazer isso...”

Nisto, aparece o outro pirata com o meu batido.

“Pois,” continuei eu entre golos de batido “ acontece que você vai morrer numa batalha, e quem vai acabar a viagem é aquele personagem efeminado que está ali a maquilhar-se... Ele provavelmente achou que seria popular lá na terra dele se fizesse isso no lugar de um português...”

“Então é mesmo verdade. HANS! Trata daquele homem!”

Um calmeirão chamado Hans passa por mim e agarra em Elcano, atirando-o à água repleta de tubarões.

“Mas... mas...”

Vendo aquilo acontecer, todos os piratas começaram a cantar uma música piratesca, com a melodia da Raspa Mexicana.

“Se não confiares nas algas
Em que poderás confiar?

Se não confiares nas algas
Em ninguém poderás confiar...”

Fui a correr para o muro de madeira que separa o barco do horizonte e felizmente não vi tubarões. Infelizmente, após alguns instantes, vi Elcano a transformar-se numa cenoura gigante e a aparecer um gigante tubarão-coelho do fundo do mar, que o deglutiu de uma só vez.

Magalhães explicou-me que já andavam boatos no ar que diziam que Elcano era o fantasma de um canibal extraterrestre que estava amaldiçoado por ter destruído o coração de uma princesa zombie e a única maneira de quebrar a maldição era matando Magalhães para dar a volta ao globo com o barco dele e ficar com a fama toda.

“Eu compreendo, mas matá-lo vai alterar a História toda e não sabemos que consequências isso poderá ter! Podemos todos transformar-nos em bichos verdes viscosos escamosos feiosos com pés mal cheirosos!”, disse eu lembrando-me do som do trovão.

Magalhães deixara de prestar atenção à minha frase a meio desta. Via no horizonte um barco da marinha inglesa e mandava agora içar a bandeira pirata. Vinha a caminho mais uma fortuna para os cofres portugueses.

“Magalhães... O grande mestre J~Ap preveniu-me para isto. Ele disse-me que o bom programador nunca deve atacar barcos ingleses em busca de despojos porque eles podem virar-se contra nós e morder-nos os tornozelos! Em vez disso, deve estudar todos os dias a API do J.A.V.A. e ser alguém na vida.”

Magalhães olhou para mim com ar desconfiado. Seria eu mais um enviado do inimigo para sabotar a missão dele de pilhar todos os navios ingleses? Seria eu um associado do Elcano? Seria eu o anticristo enviado pela besta para provocar o Apocalipse? Ou, pior ainda, seria eu um amigo do Engenheiro José Sócrates?

“HANS! Trata daquele homem!”

Hans dirigiu-se a mim com uma garrafa de vidro, material ainda não inventado na altura, esperou uns minutos para que eu acabasse de beber o meu suminho de caju, e ferrou-me um golpe na cabeça que me deixou a ver navios.

“Ouça,” disse eu com a cabeça a andar à roda “se me quer deixar inconsciente, aconselho-o a bater-me antes na nuca.”

“Onde?”

“Aqui assim.” apontei “E dê uma inclinação à garrafa de cerca de 135º.... Mais para a esquerda......... Isso, assim. Tente lá ago--”

...

Quando recuperei os sentidos estava em frente a um modesto palácio rodeado por estranhas árvores que pareciam algas gigantes. Estava submerso.