sexta-feira, abril 07, 2006

Elefantes cor-de-rosa

(está visto que a nova era é marcada por maus títulos)

Após tantas horas perdidas, após tantos insultos e repreensões do instrutor, após tantas discussões com a antipática da recepção, após tantas perguntas traiçoeiras do instrutor mais gordo e tantos exames de código para treinar (nos quais acertei menos respostas do que as que podia falhar), mas antes de um post sobre elefantes cor-de-rosa com pouca ou nenhuma piada, finalmente chegou o dia pelo qual esperava há já uns cinco meses.

O dia do exame de condução!

O meu instrutor insistiu em levar-nos, a mim e à minha colega, para o local do exame. Nós já tínhamos ouvido boatos de que ele não era um condutor exímio e até inclusivamente já tinha atropelado um ou dois cães, mas nunca pensámos ser possível um instrutor de condução guiar tão mal.
Já íamos a meio do caminho quando o pior aconteceu. Uma senhora idosa, cega, coxa e estrábica, de canadianas e cadeira-de-rodas, mãe de 5 filhos, 12 netos e 26 bisnetos, membro e contribuidora assídua da liga dos amigos do Hospital Garcia da Horta desde 1968, que ia a caminho de um almoço de beneficência a favor das crianças vítimas do Tsunami, viu o carro da escola de condução e quem o estava a conduzir, e, num acto de heroísmo ou pura senilidade, atirou-se para a frente do carro gritando “Morre! Morre e vai para o Inferno seu assassino de caniches e chihuahuas!”.

O embate violento com a velha fez disparar o airbag do condutor, sufocando o meu instrutor até à morte. No entanto, tanto eu como a minha colega Iolanda (nome fictício)(Or is it?) saímos ilesos. Telefonámos para o 112, que nos mandou uma ambulância, cujos paramédicos conseguiram salvar a velha e até a puseram a andar e a ver novamente, deixando-a apenas com uma pequena cicatriz num braço.

Decidimos então telefonar para a escola de condução, pois o carro ficara inutilizável após o acidente. Do outro lado, ouviu-se a seguinte gravação: “Ligou para uma escola de condução incompetente, inoperante, e outras coisas más começadas por in, como intupida. Neste momento são......... 10... horas e ......... 20... minutos e nós encontramo-nos fechados. Uma das senhoras da recepção está a jogar ao bingo no lar, e a outra anda metida com o namorado da cunhada. O seu telefonema é muito importante para nós. Por favor desligue e não volte a ligar.”

Desanimados, decidimos pedir boleia. Passou um carro preto, depois um vermelho, depois uma carrinha dos bombeiros, e até uma carrinha hippie que estava decorada com flores de todos os tipos e ia a caminho do Rock In Rio ver o espectáculo das fuinhas. Finalmente, passou um camião que encostou e parou para nos dar boleia. Entrámos.

Imaginem o meu espanto quando vi que ao volante estava o meu professor de física: um professor universitário assistente, muçulmano ou descendente de muçulmanos, que se engana cerca de quinze vezes por aula. Acreditem ou não, enquanto eu escrevia a frase anterior deste post, ele estava a apagar um quadro inteiro com um exercício que resolvera, pois enganou-se logo ao início e estava tudo mal por ali abaixo.. não é que eu estivesse a passar ou a prestar atenção, mas sinto-me incomodado com esta falta de profissionalismo no ensino português. Errar não deve ser humano, mas sim muçulmano. Foram os físicos monhés que inventaram o que vulgarmente se designa por “erro”. Enfim.. deixando o racismo e voltando ao post... Durante esta minha divagação, o gajo arrancou com o camião e estávamos de volta no caminho para o centro de exames.

Prof: Os jovens vão para onde?
NZL: Barreiro...
Prof: Eu também! Que coincidência.
NZL: Pois...! Já se adivinhava...
Prof: Então e estás a pensar que eu sou teu professor de física e que te dou aulas na Universidade Nova de Lisboa?
Iolanda: Agora todos os teus posts têm alguém que te lê o pensamento?
NZL: Não te metas nisto oh boazona! Eu tinha era de arranjar uma maneira de fazer com que ele me conhecesse neste post, e só me lembrei mesmo disto.
Iol: Ah, okay.
Prof: Então e vocês vão ao Barreiro fazer o quê?
NZL: Exame de condução.
Prof: Ai que giro! Eu costumava ser instrutor antes de ser professor de física camionista!
NZL: Pois...! Já se adivinhava...

Prof: Então sôr Neo Clips, resolva lá este problema:
NZL: Por que raio--
Prof: Um elefante voador transporta um astronauta até ao pico do Evereste, usando uma roldana de massa 12 kg e formando um ângulo de 39,5 bolachas radianas com o Pólo Norte. Qual é o trabalho que realiza?
NZL: Ahm... deixe-me pensar... 3?
Prof: 3?!....... 3 quê?
NZL: Joule?
Prof (olhando para o tablier): Eu tinha resolvido e tinha-me dado 7500 Joules. Deve ser dos arredondamentos. Quantas casas decimais deixou nos cálculos intermédios?
NZL: Ahm... deixe-me pensar... 3?
Prof: Pois, logo vi. Nunca se deixam 3 casas! Seu imbecil!
NZL: Imbecil é você, seu imbecil!
Prof: Então já que é tão esperto, diga-me: Se em vez de um astronauta for um canalizador? E não me diga que é 3!
NZL: 4?
Prof: Claro que não! Este tem de levar um conjunto de ferramentas que o astronauta não precisa. Fazendo em média 50 Joule para cada ferramenta, num total de 12 ferramentas (contando com o martelo de borracha e um boneco em miniatura do Alf), diria que perfaz 603 Joule. Sem contar com o dónute que ele comeu ao pequeno-almoço.
NZL: Ah... estou a ver...
Prof: Então e a velocidade daquele carro ali! É uma grandeza vectorial ou escalar?
Iol: Está a considerar a velocidade em módulo?
Prof: Nódulo? Que é isso? Eu sei lá se é nódulo ou não! Eu é que faço as perguntas aqui, agora responda se faz favor!
Iol: Se não é em módulo é vectorial.
NZL: Eu acho que é escalar.
Prof: Não é uma coisa nem outra! Está claro que se é uma grandeza tem de ser grande! Não há cá nódulos! Mas é natural que vocês achem isso. São os dois umas valentes bestas! É natural que achem coisas de bestas! Suas bestas achadoras de coisas de bestas!
NZL: ...
Prof: Sabem o que vocês são?
Iol: Bestas?
Prof: Exactamente! Bestas genuínas!
NZL: O que--?
Prof: Bestas! Era isso que você ia perguntar sua besta gigante? Que você é uma besta?
NZL: Era. Agora cale-se.
Prof: Ok. Calei-me





Prof: Olha lá oh clips. Por acaso não estás a ler o jornal na minha aula pois não?
NZL: Não, estou a escrever um post.
Prof: Um post? Para que blógue?
NZL: Para o blog Imperialium.

Nisto, a estátua de Ganesha (aquele elefante cor-de-rosa com muitos braços) que se encontrava pendurada no espelho retrovisor, voou com velocidade modular de 90 km/h e aceleração vertical de 9,8m/s2, criando uma nódoa negra de 3,5 cm de diâmetro na minha testa. E esta, caros leitores, é a prova irrefutável de que a física faz mal à cabeça das pessoas.

Prof: Sua besta mentirosa sigmoidal! É impossível que escrevas nesse grande blógue que se encontra novamente numa era dourada de vários posts por semana. Mais até do que vários posts! NÃO É ASSIM, FLAHUR E MIDDNIGHT?
NZL: Pronto. Isto não é um post. Está contente?
Prof: Então se não é um post, nem o sudoku do jornal, aposto que são exercícios de matemática! Ah, matemática... eles lá têm muitos mais integrais e derivadas do que nós! Como eu os odeio por isso! Nharghuah!


Pela estrada passavam diversos elefantes coloridos. Cada vez que se via um, o meu professor encostava o camião e mandava-me calcular a resultante das forças e o torque resultante, para cada um deles. Enquanto eu fazia isso, ele ajoelhava-se e fazia uma reza de adoração qualquer (inventem vocês as piadas que quiserem, que já chega de gozar com as crenças das pessoas). A viagem demorou várias horas, e cheguei atrasado ao exame.

Nunca tinha conduzido um camião com dupla embraiagem e o exame correu muito mal, tendo provavelmente deixado dúzias de crianças órfãs. Quando a minha colega foi fazer o exame, tocava no rádio uma música dos Azure Seizure e graças a isso, correu-lhe bem melhor. Para além disso, toda a gente sabe que as gajas boas nascem a saber conduzir veículos longos. Ela passou o exame, eu passei a tarde na esquadra e o meu professor ficou a ditar-me exercícios. Quando já tinha feito suficientes para ter frequência à cadeira e para ir a exame, acordei na minha cama com o despertador a berrar as 7 horas.

Tinha sido só um sonho. Por um lado até é bom... Explica os elefantes cor-de-rosa que só o dumbo ou uma pessoa com problemas graves é que vê no dia-a-dia.

E quem diz no dia-a-dia, diz nos altares hindus que tem no quarto.

“E o camandro”.

NZL

2 comentários:

Anónimo disse...

Clips... lol..
Mais um dos teus posts... diferentes... lol, continua!
Porta-te...

Lunático disse...

Quem me dera ter inspiração e vontade para fazer posts assim. A minha glândula tá avariada de novo, portanto é provável que tenhas de ser tu (e o Midd) a carregar o Imperialium às costas durante mais um tempo.

Para quem não está habituado a estas andanças do blog do template que outrora foi verde cor de vomitado, isto é um post exemplar do que se pode encontrar cá:
História genial, conspirativa, hilariante e original!

Portanto, toca a pôr este blog como homepage e a ler cada post que cá foi escrito!

Eu poderia ocupar este parágrafo a dizer algo como deve ser, mas não o vou fazer por falta de álcool.

Neste parágrafo poderia estar uma citação do post.

Tal como neste...

Mas eu prefiri pô-la antes...

No seguinte.

“Ligou para uma escola de condução incompetente, inoperante, e outras coisas más começadas por in, como intupida. Neste momento são......... 10... horas e ......... 20... minutos e nós encontramo-nos fechados. Uma das senhoras da recepção está a jogar ao bingo no lar, e a outra anda metida com o namorado da cunhada. O seu telefonema é muito importante para nós. Por favor desligue e não volte a ligar.”

Excelente post!

P.S.: Espero que este comentário sirva de prova como eu ando com humor de má qualidade.