sábado, outubro 07, 2006

O desmentir do Egocentrismo Universal. O afirmar do Egocentrismo Humano.

Para tornar esta dissertação mais compreensível, vou dar um nome a dois conceitos distintos. A todas as leis do nosso Universo que consideramos factuais, ou seja, tudo aquilo à nossa volta que conseguimos sentir como sendo real, vou chamar de Conjectura Fictícia. Ao outro conceito que explicarei de seguida, chamarei de Conjectura Real.


No início, Deus não criou os céus e a terra. Na realidade, nem Deus existia no início, nem aquilo era realmente o início. Antes do chamado “início” apregoado na Sagrada Bíblia, já os céus e a terra tinham nascido e morrido um sem número de vezes.



Esta é a Conjectura Real.


Nunca existiu um início. O Universo em que vivemos criou-se a si próprio através do produto do seu final anterior e, um dia, este Universo autodestruir-se-á, dando origem a uma “nova” Criação, onde todos nós viveremos de novo as nossas mesmas vidas. Teremos o mesmo nascimento e o mesmo percurso até à morte, uma vez que todas as condições da Criação anterior repetir-se-ão invariavelmente. Portanto, de certa forma, nós escolhemos o nosso destino, mas este será igual ao que escolhemos em todas as Criações anteriores.

Não há maneira de determinar o número de Criações que já ocorreram. Supor que tal é possível faz tanto sentido como ir somando consecutivamente um algarismo a um número aleatório até descobrir o maior número existente. Sabendo que o Tempo é uma grandeza infinita e que existe um valor K constante que representa o tempo que cada Criação demora, é fácil admitir que o somatório do tempo de todas as Criações, nunca será superior ao Tempo absoluto.

Após tantas Criações, - admito que usar a expressão “após tantas” é um abuso de linguagem, mas não há outra alternativa visto que esta quantidade é inquantificável pela matemática convencional - gerou-se uma auto-reminiscência humana que se reflecte na conservação de memórias de uma Criação para as seguintes. Apesar de ser impossível provar-se este facto, ele constata-se pelo conhecido fenómeno de Paramnésia, vulgarmente chamado de Déjà vu. Já todos nós sentimos, a certa altura, uma familiaridade com um sítio onde nunca estivemos, ou, em casos menos frequentes, tivemos um sonho que se veio a concretizar. Essas são recordações do futuro da nossa vida, ou do passado se preferirem.


Será possível admitir que a Conjectura Real só se distingue da Fictícia no aspecto das re-Criações?


Não, mas as leis da Conjectura Fictícia não são muito diferentes das da Real. Actualmente (e de actualmente a K * n), sabe-se que toda a matéria é constituída por átomos. Contudo, enquanto na Conjectura Fictícia tal está limitado a um número finito de objectos palpáveis, segundo a Conjectura Real, essas leis aplicam-se a tudo o que existe, sem excepção. Assim, o nosso Sistema Solar é um átomo, composto pelo núcleo que é o Sol, e diversos electrões que são os planetas. A reunião de diversos sistemas solares geram as moléculas, também chamadas de galáxias e, tal como acontece em ambas as conjecturas, o agrupamento de moléculas gera a matéria palpável.



Opinião pessoal


Então, o nosso planeta é um simples electrão que faz parte de um objecto gigantesco (relativamente a nós), que desconhecemos. E por alguma razão estranha, esse objecto é destruído e renovado da mesma forma a cada K, num processo idêntico à união dos chamados de Big Crush e Big Bang na Conjectura Fictícia, e todos nós somos arrastados com ele nesse processo. Pensei em quatro hipóteses que podem explicar este padrão:


1) O objecto em questão (o nosso Universo), juntamente com um número finito ou infinito de outros objectos (organizados num Multiverso), é um ser vivo pertencente a uma civilização avançada. Por alguma razão, este ser vivo tem de ser destruído e reconstruído a intervalos regulares para assegurar a sua existência, numa versão melhorada do nosso processo de clonagem.


2) Fazemos parte de um teste científico que tem como objectivo verificar a incerteza experimental de um ensaio regular, executando-o um número infinito de vezes e registando se existiram ou não alterações em relação ao ensaio anterior.


3) Somos parte de um único ser omnisciente, omnipotente e omnipresente, que é tudo o que existe e que muita gente considera Deus. Correndo o risco de contradizer o que referi no segundo parágrafo, considero esta uma hipótese plausível, rejeitando que este Deus seja o mesmo que é referido na Bíblia Sagrada.


4) “A meio, Deus criou um pão com manteiga.” Apesar de omnisciente, “esqueceu-se” do pão com manteiga por vários biliões de anos em cima do balcão, a centenas de universos e milhares de anos-luz de distância do frigorífico. Como Ele nunca fez nada ao acaso, é lógico que tinha pensado nisto tudo antes de fazer aquele seu lanchinho. A certa altura, entre o meio e o suposto fim inexistente, Deus teve fome e foi à cozinha. Descobriu que o pão com manteiga tinha ganhado bolor ao ponto de lá terem crescido florestas, rios, vales e até macaquinhos pequeninos. Deixando o pão com manteiga exposto mais uns milhares de anos, pôde observar uma civilização minúscula de micróbios emergir no meio da zona mais fungosa da côdea.
Momentos depois, no pão nasci eu e tornei-me no Seu principal divertimento durante algum tempo. Até que Deus começou a abusar da minha boa vontade e a exagerar com aquelas coincidênciazinhas que geram situaçõezinhas chatinhas como o raio que O parta em pedrinhas pequeninas e biodegradáveis. E depois eu comecei a ficar chateado e comecei a não fazer caso aos abusos psicológicos de que era alvo. E depois Ele ficou chateado. E depois a humanidade ficou toda chateada por Deus estar chateado comigo. Mas Ele em vez de se vingar nos outros começou-se a vingar em mim e eu, não menos chateado, comecei-me a vingar das vinganças d'Ele atirando calhaus ao sol e à lua, que são as partículas sub-atómicas que Ele usa para nos iluminar de forma a poder observar-nos convenientemente. A certo dia, Ele começou a ficar incomodado com o meu egocentrismo e disse-me que se eu não parasse de achar que Ele estava a embirrar comigo, coisa que estava de facto a acontecer, Ele seria obrigado a colocar as minhas pernas no lugar dos meus braços e curar-me quando eu me quisesse coçar e não pudesse, não fosse eu espalhar a notícia pelos jornais do Vaticano. Claro que eu não me calei com os protestos de Ele se divertir à minha custa constantemente. Eu, que sempre pusera o Ego em egocentrismo e o centrismo em Ego, não me ia acobardar por uma simples ameaça da divindade com poder infinito que nos controla a todos.
Deus estava a fazer bluff, mas eu topei-Lhe a jogada. Eu sabia perfeitamente que se Ele não me conservasse vivo, Ele teria de ir ver televisão para se entreter e o Gajo não gosta nada desta geração MTV que tem relações sexuais ainda antes de perder todos os dentes de leite. E enquanto pensava isto, estava eu descansado e alegremente atirava calhaus para o céu. Se pensaram que por muitos calhaus que atirasse, nenhum haveria de acertar, enganaram-se. Deus ficou fulo e à rasca do olho, mas pior que isso foi a pedra ter voltado à Terra semanas depois e ter caído exactamente em cima da minha cabeça. Deus bem queria ter impedido esse acontecimento, mas Ele esteve desmaiado durante algum tempo. E quando eu caí a sangrar e a espasmar no meio do chão, Deus acordou para a vida e ficou visivelmente incomodado com o sucedido. E jurou-me ali mesmo, que iria ressuscitar o planeta Terra e consequentemente toda a humanidade a cada K, para que se pudesse continuar a divertir comigo. Eu não fiquei surpreendido. Afinal de contas, EU ERA o bobo oficial de Deus.
Foi então que Ele me disse que eu iria morrer e iria ficar preso no limbo até à próxima Criação. Perguntou-me se eu tinha algum último desejo ou pergunta a fazer. Após algum tempo a pensar, resolvi perguntar-Lhe algo que me atormentava desde que começara a escrever esta dissertação, há um sem-número de Criações. Resolvi perguntar-Lhe que elemento era o nosso Sistema Solar.




E Deus respondeu-me objectivamente e sem quaisquer rodeios. A Via Láctea era o átomo Imperialium.

NZL

3 comentários:

Nerzhul disse...

Este será o meu último post no Imperialium por um período de tempo indefinido, que espero não se venha a tornar exageradamente grande. No entanto, continuo a estar disponível, dentro da medida do possível, para eventuais posts em conjunto com outros Imperialistas. Até ao meu regresso.

Lunático disse...

Todos somos egocêntricos e temos teorias que há uma conspiração em massa e de grande escala contra a nossa pessoa, mas nem todos adaptamos a nossa teoria para post de maneira tão genial.

A primeira parte, onde desenvolves a tua teoria da existência do universo, está impecável. Séria, interessante e com bastante lógica.

Na última parte, onde finalmente o título é justificado, apresentas a tua teoria da conspiração com humor ora à superfície, ora um pouco mais escondido, trazendo a parte divertida neste post "teoricamente" sério.

E ainda bem que a tua pausa no blog acabou há bastante tempo. Agora vamos unir esforços (nós Imperialistas) e fazer de 2007 um ano tão movimentado ou ainda mais que o de 2004.

Bom post! "Bons blogs!"

Nerzhul disse...

Teoricamente, a minha pausa não terminou ainda.. não consigo é ficar longe do Imperialium por muito tempo..

Para ser sincero, a pausa nem tinha final previsto.
Com o passar do tempo decidi terminá-la no fim do semestre, algo que acontecerá a meio de Fevereiro, mas como me vi com tempo para fazer o post do Natal e como houve tanto entusiasmo por causa dos perfis animalescos, acabei por "regressar" ligeiramente mais cedo e fazer esses dois posts.

Tinha inclusivamente planeado fazer um post chamado "O regresso do que nunca chegou a partir", para honrar os bons velhos tempos do blog.

Está visto que sou tão bom nisto que nem pausas em condições sei fazer para criar a expectativa do regresso.. bah..


Em relação a este post, queria só acrescentar uma observação. Não que eu não sinta prazer em assumir-me como sendo egomaníaco, mas onde eu queria chegar realmente com esta treta toda do egocentrismo, é que nós, os imperialistas, somos verdadeiros "deuses do Universo" por termos criado o Imperialium e devemos sentir orgulho nisso. O post foi construído mais a pensar na última frase do que propriamente na história de eu ser o Seu bobo.