sexta-feira, julho 09, 2004

"Amanhã" vou acordar tarde

Aconteceu certa vez, um gajo começar a fazer um post às 4:00 da manhã, tentando aproveitar o restante da inspiração de um atarefado dia de férias no qual não fez a ponta de um chavelho (não faço a mais pequena ideia de onde esta variante de corno provém, mas a minha mãe utiliza-a muitas vezes). O gajo bocejava e bocejava e bocejava, insistindo em não dormir, tentando por todos os meios justificar a hora a que acordara nesse dia, e a hora a que acordaria no dia seguinte, quando se lembrou de uma história que tinha tanto de hilariante como de espectacular. Contudo, de tanto esforçar os neurónios, desmaiou e ficou inconsciente sobre o teclado. Adormeceu profundamente à sua secretária sentado numa cadeira apoiada em rodas, quando eis que, na exacta altura em que foi possível ouvir-se um ronco maior, a cadeira esquivou-se para trás e o fulano bateu com os queixos no teclado, sendo projectado para trás, por ordem de um cromo qualquer chamado Newton que tinha a mania de brincar com fruta. Acabou a bater violentamente com a cabeça no chão (e ainda lhe dói), a mesma cabeça que colidiu contra a secretária assim que a criatura se começou a levantar.
Apesar de se ter esquecido da espectacular história hilariante, não perdeu a vontade de postar, estando aqui, com um hematoma na nuca, outro na testa, a contar uma outra história, não tão hilariante como a primeira, mas lá terá de servir:

A mulher que detestava a sua almofada

No tempo em que os animais falavam, uma senhora semelhante a muitas outras, passava noites inteiras em claro devido à sua almofada. Não por esta ser demasiado alta ou demasiado baixa, nem por ela ter uns vergonhosos desenhos do kamasutra na fronha, apesar de isso não a motivar a gostar dela. Também não era devido à sua forma rectangular, ou ao facto de conter penas dentro de si, isso era agradável. A grande razão da aversão à sua almofada é a existência de um botão dentro dela, camuflado num mar de penas.
Ela desconhece o objectivo do botão, e por essa razão não se atreve a tocar nele, e esse medo de morte das consequências do botão, faz com que ela tenha de dormir no chão, pois a almofada está pregada a cama por motivos do seu sono agitado. E a cama ao chão, para, no caso de um sismo, a cama não sair a dançar pela varanda fora, fazendo com que o candeeiro caísse no chão em vez de cair em cima do colchão.
Um dia, houve um grande acidente de viação na sua rua, fazendo-se notar por um chiar de pneus, seguido de um enorme estrondo que ecoou pela cidade inteira. A senhora acorreu à varanda do seu quarto, mas tropeçou numa lata de pêssego em calda, caindo agilmente em cima da cama. Deixou-se ficar deitada em cima dela e pôs-se a pensar como aquela lata tinha chegado ali. Lembrou-se então dos bombardeamentos alemães sobre Inglaterra, e, como ela se encontrava na Austrália, supôs que um javali tivesse amamentado a sua cria com uma bola de futebol americano. Como a cria se encontraria na estação da Fertagus do Areeiro, era possível que aquela lata tivesse chegado ali no cacilheiro, através de uma viagem sem bilhete. Quando percebeu que resolvera o enigma, começou a levantar-se, mas ao virar a cabeça para a esquerda, bateu com a verruga na sua ponta do nariz na almofada maldita, carregando no botão no seu interior e fazendo soar as sirenes da sua cave.
À medida que se dirigia para a cave, tropeçando-se com o medo que sentia, ouviu a campainha tocar e dirigiu-se para a porta. Lá encontrou um bombeiro que tocava corneta como um profissional que a avisou de que a lata estava lá por alguma razão. Quando ela lhe contou a história da cria do javali, o bombeiro encolheu os ombros e foi-se embora a tocar corneta, assobiando alegremente e cantarolando como uma criança.
Foi então que a mulher chegou à cave. Lá encontrou uma lata gigante e graças àquela lata teve pêssego de borla para o resto da sua vida.

NZL

Moral da história: Nunca se deve temer o que se desconhece, especialmente se o que se desconhecer tiver muita calda e se parecer com pêssego.

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