segunda-feira, setembro 15, 2008

Saga da Lua

Uma Troll chamada Unga e uma guerreira chamada Skor.

/*
Ora bem, antes de começarmos quero esclarecer aqui dois pontos:
1º Nem imaginam a quantidade de comida de plastico brutalmente assassinada para acabar este post
2º Este post foi feito para ser lido com a banda sonora de: Symphony X, Ayreon, Lori Linstruth, ou Kiuas

Sem mais demoras... o post:
Enojy
*/

Vi a aldeia a movimentar-se à minha frente. Guardas amontoavam-se na entrada enquanto os ocupantes da aldeia escondiam-se nas suas casas. Com passos convictos eu avancei, a minha cabeça pendeu para a frente e com as duas mãos ergui a minha espada. Os trolls foram afastando-se um pouco conforme eu fazia o meu caminho. Olhei para eles com um sorriso na cara. Eram na maioria mancebos, não me parecia haver trolls acima dos 25 anos no grupo e todos eles estavam aterrorizados, não entendia porquê, o meu porte não era o de um guerreiro poderoso como alguns deles, no entanto continuavam a afastar-se. Foi-se abrindo um corredor entre os guardas por onde eu caminhava, sabia que mais tarde ou mais cedo eles iriam cair em cima de mim por isso não baixei a defesa. Estavam todos hesitantes, temiam-me e mesmo sem reconhecer as razões esse facto punha a minha adrenalina ao rubro. Eu sabia que estava em desvantagem, para alem disso encontrava-me cansada pois não tinha descansado desde que parti da montanha com a Kaly, as minhas mãos doíam-me devido a quando descarreguei a minha fúria numa árvore, no entanto sentia-me superior às dezenas que me rodeavam. Era uma sensação estranha, talvez fosse da adrenalina, mas eu via o seu futuro nas minhas mãos e um fio de sadismo fez-me soltar uma gargalhada. Os jovens guerreiros entreolharam-se assustados. Não os podia julgar pois eu devia estar a dar um ar de louca.
Após mais umas passadas o corredor parou de se abrir e começou a fechar-se. Estava completamente cercada de trolls, à distância estava um altar completamente preparado para uma cerimónia e Urnia esperava ao seu lado olhando para mim com ódio cravado na cara. Acho que ela sabia quem eu era, ao contrário de muitos dos outros. Olhei em volta e notei novamente que os que me rodeavam não eram os mais corajosos guerreiros Troll mas somente os mais novos que me faziam frentee não conseguia entender essa atitude. No meio do emaranhado de azul e metal reluzente consegui diferenciar uma cara. Thorg, aquele que se achava o par perfeito para Unga e agora que a vida dela estava ameaçada, nem um dedo movia para a salvar. Fechei os olhos por segundos sendo assolada por uma grande raiva. Cerrei os dentes e deixei escapar um grunhido antes de gritar.

- Thorg! – Apontei a espada para ele deixando-o algo surpreso.
- Co... Como sabes o meu nome? – Questionou ele assustado, obviamente não me reconhecia como o lobo que à dias ele próprio tinha expulso desta aldeia. Era algo normal.
- Cala-te e vem lutar comigo se tens coragem!
- O capitão da sacerdotisa Urnia luta com ninguém. – Retorquio um jovem troll, este já agarrava a sua arma mais convictamente.
- Para lutares com ele terás de passar por nós primeiro criatura maligna. – Gritou outro que se lançou rapidamente contra mim.

E assim começou, o guerreiro atacou-me com uma espada, mas o meu golpe superou o seu e a sua arma voou-lhe das mãos. Enraivecida e cega pelo desejo que me tinha trazido a este lugar apliquei um segundo golpe no troll, fazendo o sangue jorrar. Talvez devesse ter sido mais ponderada e controlada pois ao ver os olhos do jovem troll pejados de medo a olhar para alguma forma indefinida conforme a vida escapava do seu rosto, fui bombardeada por gritos de fúria vindos de todos os lados. Antes de sequer o primeiro troll que me atacou cair já outros dois saltavam para cima de mim, antes de conseguir trespassar o segundo, mais dois se juntavam à luta. A minha mente fechou-se num estado de transe onde apenas o choque do aço e os movimentos do corpo se sentiam. Lutava com um, desviava-me de outros dois enquanto tentava bloquear um quarto, tentando contudo na minha fuga não me lançar contra um aglomerado de armas que me esperavam. Era um emaranhado de golpes, faíscas e gritos, confuso para os olhos, nauseabundo para no nariz e irritante para os ouvidos. A minha mente cansou-se rapidamente e senti o meu corpo a entregar-se à luta fechando todos os sentidos dispensáveis. Senti o frenesim do sangue e aço a tomar conta de mim e dancei a terrível dança da morte, perfeitamente coreografada. Já não precisava de me desviar ou recuar, aqueles que me atacavam caíam com um golpe bem antes de outro me tentar golpear. Caíam mais rápido do que conseguiam chegar perto.
Trespassei um troll que percorreu toda a lâmina, fazendo-me sentir o cheiro do seu sangue, vi a sua face sem vida e lutei contra o seu peso a pender sem força própria. Afastei-o com o pé. O corpo caiu no chão com um ruído seco. A batalha tinha cessado, pelo menos por instantes, pois os trolls que estavam vivos encontravam-se apavorados demais para se aproximar. Eu estava coberta de feridas e cortes fazendo a dor latejar no meu corpo, respirava ofegantemente e as minhas pernas tremiam em diversos instantes. O sangue pingava abundantemente da minha lâmina. A sua cor tinha-se banhado de carmim que combinava com a cor dos rubis que adornavam os olhos dos lobos, ainda esfomeados por carne e sangue. Eu mantinha um sorriso leve no rosto quando comecei a avançar lentamente e de espada erguida por entre os corpos. Fechei os meus punhos firmemente em volta da espada, pois na distância consegui ver algo que me fortaleceu a determinação. Era Unga, sendo arrastada por dois trolls em vestimentas estranhas em direcção de Urnia, essa estava ajoelhada em frente a um altar, rezando numa língua desconhecida para mim, preparando-se para a continuação do ritual. Ao seu lado estava uma troll que afiava de forma cerimoniosa uma pequena navalha. Não demorou a ser pintado o quadro na minha cabeça e estremeci ao entende-o.
Vendo a minha distracção Thorg procurou um ataque rápido e eficaz que por sorte consegui bloquear. O seu machado embateu na minha arma com uma força tremenda e só por pouco não perdi o equilíbrio. Ele fez outra investida rápida que consegui bloquear outra vez, mas mais debilmente pois juntamente com as feridas no meu corpo, o impacto do seu primeiro ataque deixara os meus braços fragilizados.
Em nossa volta ouvia gritos de apoio ao capitão, mas os meus olhos distraíram-se outra vez nas acções de Urnia que já tinha acabado a sua reza e agora estava erguida perante Unga que tinha sido colocada no altar.
Thorg investiu outra vez fazendo-me levantar a espada em defesa, mas desta vez prevendo a força do seu golpe deixei a lâmina do seu machado receber pouca resistência e deslizar pela minha espada fazendo-o perder o equilíbrio. Vi a faca a ser entregue a Urnia e erguida no ar. Com uma reacção rápida larguei o cabo da espada com uma das mãos e de punho fechado bati violentamente na face de Thorg, projectando-o para o chão. Comecei a correr em direcção ao altar mas tendo de parar pois inspirados pelo seu capitão os guardas voltaram a fazer-me frente. Na minha raiva e adrenalina derrubei-os rapidamente sofrendo ferimentos que apesar de mais fundos que simples arranhões não me fizeram parar. Ao retomar a corrida, o meu sangue gelou no momento que a navalha começara a descer sobre o peito de Unga. Antes de a minha garganta soltar um grito de terror, vi algo que pareceu uma intervenção dos Deuses. A mão enrugada de Yorgsh parara a sedenta de sangue de Urnia. Agradeci a todos os Deuses que pudessem existir pela presença do ancião naquele momento em que Urnia quedou-se olhando para Yorgsh com cara pejada de ódio, enquanto que ele retribui-a a esse olhar com uma cara serena. Aquela cena pareceu-me um confronto entre titans de forças opostas que eclipsava tudo o resto.

- Seu velho insolente, o que pensas que estar a fazer?
- Algo que já deveria ter feito à muito tempo Urnia!
- Tu estás débil, já não tens forças para te levantar quanto mais liderar!.
- E tu Urnia? Nunca esperei que a minha amada mulher fosse fraca o suficiente para cair sob o encanto do Jotun. Distorceste as palavras dos oráculos e criaste a tua própria verdade. Verdade essa que alimentaste às pobres almas jovens que jorraram sangue e a sua vida por ti! Por essa verdade que fabricaste!

Ouvi um rugido vindo de trás de mim. Num reflexo rápido, brandi a minha espada velozmente atingindo Thorg que se lançava novamente a mim no peito. Atingido pela surpresa do golpe, Thorg agarrou-se à sua ferida, tossindo sangue antes de cair no chão. Voltei a olhar para Urnia que nesse exacto momento derrubou Yorgsh. O meu tempo era escaco, portanto lancei-me novamente numa corrida desenfreada. Urnia ergueu novamente o punhal com as duas mãos e gritou,

- Este será o fim do tormento! O sangue purificará, o sangue alimentará! Eu serei uma Deu…

Antes de terminar a frase eu trespassei as suas costas empalando-a na minha espada. Cravei-a bem fundo nas suas costas vendo a extremidade a irromper pelo ventre. Senti uma vontade imensa de gritar de raiva, mas não consegui, a minha expressão manteve-se estática e firme. O sangue escorria abundantemente pelas minhas mãos e o momento parecia prolongar-se infinitamente, assim como o ultimo momento de Urnia.
Perdi as forças para segurar a lâmina e deixei-a pender para baixo. O corpo de Urnia deslizou pela lâmina em sentido oposto caindo inanimado no chão envolto em sangue. Segundos depois um grande vulto negro ergueu-se do corpo de Unga, sem expressões ou forma definida e soltou um enorme grito antes de esvoaçar pela aldeia e desaparecer para alem da orla da floresta. Larguei a espada e desloquei-me até ao altar. Perdendo sangue e com a visão turva com um cansaço extremo pequei na Unga e abracei-a fortemente contra mim. Consegui sentir o meu coração a acalmar, toda aquela raiva e fúria a desvanecer, encostei a minha face à de Unga e suspirei.

- Já acabou… já acabou.

Tudo ficou negro e desmaiei.

-------

Acordei com as feridas quase todas saradas e as mais graves a serem tratadas por um troll e pela sua filha. Reconheci a filha como a rapariga que tinha afiado o punhal a Urnia. Antes que pudesse ter dito algo num apelo de fúria, a rapariga agarrou na minha mão e pediu mil desculpas. O seu olhar baço estava cravado na minha cara repleto de lágrimas, era cega. Mais tarde o seu pai explicou-me que tinha acontecido o mesmo com a maioria dos jovens da aldeia. Foram contra os pais e rebelaram-se contra as tradições, seguindo cegamente Urnia. Contra todos os avisos formaram a guarda de Urnia que os mais velhos julgavam que mais tarde seria tornado num exército de invasão. O descontentamento em relação a Urnia tinha crescido imensamente na população adulta, mas os jovens olhavam para ela como uma Deusa e um exemplo.
Foi-me também explicado que tinha sido profetizado à muito que um grande mal iria assolar a tribo e que só alguém que não seria parte deles conseguiria livrar esse mal. Esse alguém era eu.
Mais tarde quando comecei a recuperar das feridas mais severas, troquei a minha roupa com as minha antiga pele por um vestido simples, Jorin, a filha do curandeiro que tinha tratado de mim ajudou-me a percorrer a aldeia, visto que era cega eu estava a ser os seus olhos enquanto ela me ajudava a caminhar. Muitos adultos vieram ter comigo pedir-me desculpas, incluindo aqueles cujos filhos eu tinha morto, senti-me terrível e pedi imensas desculpas a todos apesar de não terem sido aceites. Diziam que o favor que eu tinha prestado nunca poderia ser pago e que os seus filhos tinham feito a escolha deles.
Conforme os dias foram passando, consegui aventurar-me fora da cama sem a ajuda de Jorin, mas não dispensei a sua companhia, era uma rapariga tímida e divertida que ansiava descobrir coisas novas, mas a sua condição não a permitia. Portanto ajudava-a a entender as coisas fora da segurança da sua casa que já conhecia como a palma da mão e fazia-a aventurar-se cada vez mais longe.
Um dia mais tarde, Taril, pai de Jorin, recebeu a presença de Yorgsh em sua casa. Após vários dias sabendo pouco sobre quem me tinha acolhido quando era apenas uma criatura selvagem, senti-me feliz por Yorgsh me ter procurado. Passamos umas quantas horas a comentar e a debater o sucedido com algumas intervenções surpreendentemente inteligentes de Jorin até que Yorgsh finalmente tocou no assunto. Unga tinha acordado e já estava saudável o suficiente para receber visitas.
Yorgsh viu a felicidade na minha face e ambos fomos para sua casa o mais rápido que o ancião podia. No meio da minha alegria não vi o pior problema que poderia surgir e que cravou mim pior do que qualquer lâmina. Unga estava ainda acamada, mas já se sentava, as feridas na cara quase tinham desaparecido e já parecia bem revitalizada, mas ao ver-me Unga mostrou um olhar interrogativo e confuso.

- Quem é? – Perguntou ela num tom inocente.
- Ela é quem nos salvou Unga, ela foi quem te salvou, o nome dela é Skor.
- Skor? – Questionou-se incrédula. – Não! Não pode! Skor é o meu lobinho!

Não consegui responder, a minha cara certamente estava marcada de dor, senti as lágrimas a correr pela minha cara e pedindo desculpas abandonei a casa de Yorgsh. Num andar rápido. Voltei para a casa de Taril e desculpando-me como indisposta tranquei-me no quarto. Lá tinha um espelho feito de bronze polido. Levantei-me e olhei-me nele. Tinha lágrimas a percorrer-me os olhos azuis como o céu e a cara de tom pálido ainda marcada de algumas cicatrizes.
Cai na cama. Ela não me reconhecia, mas também tinha razões. A mudança que Xana me proporcionara fora boa para atingir os meus objectivos, mas agora, tudo caía.
Jorin entrou pelo meu quarto dentro ao ouvir-me chorar, aproximou-se com cuidado para não tropeçar em nada e sentou-se ao meu lado. Falamos pois eu pensei que ajudaria, mas a tristeza nunca me largou. Ela confortou-me, disse-me que as coisas iriam ficar melhores, mas eu simplesmente não acreditei, pedi-lhe que me deixasse sozinha e dormi.
Os próximos dias passaram-se lentamente. Yorgsh tinha-me convidado a voltar para a sua casa mas recusei, por razões óbvias. A minha tristeza era evidente, mas não parei de ajudar. Quer fosse a fazer recados para Taril, ou ajudar Gan na forja, pois era algo para que tinha jeito e me acabava por acalmar. Jorin tinha-se mantido comigo a maioria do tempo, mas agora começava a deambular um pouco mais sozinha. O seu sentido de orientação começava a fascinar-me. Ganhei como habito ir para um monte perto da aldeia e deitar-me sob a relva e olhar para a lua, acompanhando o seu ciclo pelo céu.
Um dia quando o dia acabara o trabalho, deixei Jorin em casa e desloquei-me para o tal monte. Fechei os olhos e deixei o ar fresco da noite de lua nova embalar-me.

- É um bom sítio. – Disse uma voz que eu não esperava ouvir e pensando ser alucinação da minha mente mantive-me em silencio. – Não sei se queres que te faça companhia, especialmente depois da minha atitude.

Mantive-me em silêncio e de olhos fechados, se fosse uma alucinação, preferia não quebrar o encanto.

- Desculpa-me, eu devia ter sido mais razoável, devia ter entendido! Passaste por tanto.
- Tu também Unga. – Respondi eu. Até agora notei o quanto a minha voz tinha mudado. Sentei-me e olhei para ela. Ela respondeu com um sorriso. – Passamos ambos por tanto, no entanto, não posso julgar as tuas atitudes. Já olhaste bem para mim? Estou… estou tão diferente.
- Eu sei. – Ao dizer isso ela sentou-se ao meu lado, os seus olhos não largavam os meus, era uma sensação estranha. – No entanto, a mudança pode não ser para o mal, não importa do que aconteça.

Com essas palavras ela abraçou-me. Eu não resisti e abracei-a em resposta. Senti-me outra vez o lobo nos seus braços e o meu coração disparou. Havia tanto para falar, mas nada dissemos. Mantivemos-nos em silêncio. Com a lua nova a sorrir como uma criança por cima de nós.

Fim.

/*
quando eu digo fim, é fim mesmo, a Saga terminou. Finito.
Há questões que não foram resolvidas?
Isso talvez virá noutra historia... esperemos para ver, visto que o poster é louco e anda a a meter comments de java script nisto
*\

P.s.: não, a Skora não scorou com a Unga!!

0 comentários: