segunda-feira, fevereiro 21, 2005

ODE NASAL! ®

Ornamento vivo de adoração
Possuidor de possantes poderes;
Inocente objecto da tentação
Oriunda de carnais prazeres.

Amargo, insípido, talvez doce
Fulgindo sob o rubro cabelo teu,
Assaz me atrai como se fosse
Mais que vero no seu apogeu.

A maior pureza na luxúria dorme,
Criando um belo desejo romântico
Fruto duma vontade feia, disforme
Que se manifesta, sublime, num cântico.

Um Hino grandioso a eleva,
Estranha Ode à paixão e ao esplendor;
Régia cartilagem de Eva
Ostentadora do poder do Senhor.

É o Nariz que eu quero comer!,
Fruto da bela criatura maquilhada;
Altruísta para quem o quer ver,
Comia-o todo duma só dentada!

Celebraríamos ardentemente o pecado,
Partilhando juntos o nosso prazer.
Com sangue e muito ranho derramado,
Unidos veríamos o sol nascer.

Seríamos para além de dois: um só!
A estrela seria a nossa guardiã.
Reconciliados sem pena ou dó,
Acordaríamos juntos de manhã

Em comunhão com a tua imperfeita
E aparente beleza que me fascina;
Que me hipnotiza de forma contrafeita
Fomentando esta paixão que me domina.


(Porém, oh!, pensar tal imaginação extraordinária,
Atenuando a realidade tão cruel e sanguinária,
Tal como a expectativa que o mundo que há-de vir
Realize finalmente o meu sonho de existir
Integrando na minha paixão o meu ser total e absoluto,
Cingindo nela o obscuro manto de eterno luto,
Indiferente aos ódios de um mundo decadente
Alheia eternamente a esta vida inexistente!)


Por mim passa esta doença de paixão febril
Como uma insignificante brisa primaveril…

Como senhor desta paixão impero,
Gerando uma provocadora nostalgia
Dentro do meu bravo coração austero
Uma sensação intensa de melancolia.

Paradoxais sentimentos erróneos
Causados pelo seu cabelo Infernal;
Sussurram-me aos ouvidos os demónios
Habitantes desse Paraíso irreal.

Recitam-me poemas de sedução,
Trovas repletas de luz e magia;
Impérios caíram com tal ovação
Alvos desta tétrica feitiçaria.

Atravessando os tempos ecoam
Seus milenários tentadores gemidos,
No ar, fúnebres marchas ressoam
Por grandes semideuses combalidos.

Mas perante todas as adversidades,
Pelo Nariz eu me aventurarei
Fazendo frente a quaisquer atrocidades
Por Ele o impossível farei!
Pois nas redes me vi emaranhado
Deste ornamento vivo de adoração
Num suposto futuro condenado,
Será a causa da minha perdição!


Miguel Martins


A pergunta à qual não obtenho resposta é a seguinte:

Será o poeta um "fingidor"?

NZL

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