sábado, março 10, 2007

Crianças divertem-se

(este post é a continuação/resposta a um post da Anuket que pode ser encontrado aqui. A série toda, por ordem inversa, encontra-se aqui.)




PARTE 1: A Missão Divina.




neo (aos berros): Oh mãe!! Fiz um dói-dói na cabeeeçaaaaa!

Foi o que gritei depois de ter dado uma espalhafatosa queda nos patins, causada pela sabotagem profissional feita pela Anuket, ao desprender aquele coiso que prende as rodas.

neo: Mããããe!!!

A Anuket é a Gazela Imperialista. Ela é má pessoa, é desajeitada, gosta de pensar que não é fofa e é incapaz de competir comigo, por isso estraga-me os patins para me fazer cair.

neo: Ohhhhhh Mãããããããããããe!!!!

O que pouca gente sabe é que ela própria também cai regularmente. Quando o faz, começa a dizer que fica zonza do nariz (que surpresa...) e a zonzice começa lentamente a subir-lhe para a testa enquanto as dores a fazem delirar e a deixam a rir que nem uma parvinha.

neo: MMMMAAAAAAANNNNNHHHHHHHEEEEEE!!!!!

Eu diria que a única coisa que a Anuket faz minimamente bem é ser minha inimiga, embora mesmo nisso ela tem sérias falhas, pois já me salvou várias vezes de morte certa, dá-me boleia ocasionalmente e, como se não bastasse, quer andar comigo ao colo e acha que eu sou boa pessoa.

neo (desmaiando): ...*fiiiiiiuu*... *póing!!*

E após aqueles quatro ou cinco gritos de desespero, o agora inconsciente neopinguim esvaía-se em sangue com a cabeça rachada. Tudo isto porque a Dona Anuket, “mãe de todos os Imperialistas”, não foi capaz de acudir em seu socorro. Porém, não pensem que isto foi uma demonstração de ódio por ele. Foi antes uma demonstração da sua incapacidade maternal e da sua falta de responsabilidade, porque ela até é fofa!

Instantes depois de o neopinguim ter desmaiado, a Anuket foi-se embora com o seu dragão papa-formigas mostrar-lhe as fotos fofas que tem no hi5.


Felizmente para o neo, “Aquela Coisa” do OVNI percebeu que tinha sido aldrabada pela Anuket, quando esta fugiu sem lhe dar o seu telemóvel e regressou do espaço para ajustar contas com ela. A Coisa alienígena, vendo o neo desmaiado no chão, pegou nele e levou-o para dentro do seu Disco Voador, onde o curou com uma escova de dentes futurista que, para além de curar fracturas cranianas, também fazia folhados mistos e pastéis de bacalhau e até resolvia equações diferenciais de terceiro grau. Não dava era para escovar os dentes.

neo (levantando-se): Estou curado! Como poderei alguma vez agradecer-te?
Coisa: Casa com a minha filha! Nós só voltámos à Terra porque ela me obrigou!
neo: Então não foi por causa da falta do telemóvel?
Coisa: Achas? Eu queria lá o telemóvel para alguma coisa... Eu até pagava para me ver livre da nhónhó da Anuket...
neo (com sensações no estômago): Hey!! Vê lá o que dizes!
Coisa: Ok... ok... Então casas com a minha filha ou não?
neo: O que é que ganho com isso?
Coisa: Eu salvei-te a vida! O que aconteceu ao “Como poderei agradecer-te?”?
neo: Quando foi isso? Não me lembro..
Coisa: Bah.
neo: Caso-me com ela se me deres a tua nave espacial.
Coisa: E vou para casa como?
neo: Chamas um táxi.
Coisa: Táxi para Marte?
neo: Chamas dois táxis.
Coisa: Combinado. E casas com ela?
neo: Caso.


A Coisa lá se foi embora e deixou-me o OVNI com a sua filha lá dentro e um manual de instruções com um número de páginas inquantificável por métodos humanos. Como o português que é bom português nunca lê manuais de instruções, tentei pegar logo no Disco Voador e, carregando em vários botões ao acaso, dei por mim a voltar atrás no tempo várias horas e fui cair mesmo em frente à casa da Anuket. Ela, quando viu a aeronave planar em frente à sua varanda, deve ter sofrido um ataque cardíaco nos seus pépés pois caiu inanimada no meio do chão, de forma fofa.

Entrei pela janela e pisei-lhe o pé. Olhei em redor. As paredes do quarto estavam forradas com budas, espanta-espíritos, gomas, chocolates, flores hippie, bruxas, tralhas indígenas compradas em lojas de chineses e outras quinquilharias roubadas da sucata. Em cima da cama repousava, sentado num trono opulento esculpido em marfim, largamente adornado com ouro, platina, pedras preciosas e outras coisas brilhantes de nome francês, um Urso feio e de ar ameaçador que me rosnou assim que me viu.

“É para o bem da minha inimiga”, pensei, “Salvá-la deste urso é um mal menor em prol do nosso ódio!”

Tirei o tranquilizante da mala e carreguei uma arma que trazia no coldre, enquanto o Urso corria para me atacar. Com um gesto rápido e destro, apontei-a ao Urso e disparei-lhe um dardo que lhe acertou mesmo entre os olhos, fazendo-o cair por terra a gemer e a contorcer-se. Quando o Urso tombou, soou um alarme ensurdecedor pela casa da Anuket e vários círculos coloridos apareceram de todos os lados, voando na minha direcção. Estes diagramas de Venn disparavam números inteiros que nem metralhadoras, forçando-me a fazer uma saída teatral à James Bond, que alcancei agarrando o Urso pela perna, abrindo a janela da varanda e saltando de lá para o Disco Voador em movimento, tudo enquanto a música do Indiana Jones tocava aos altos berros no auto-rádio da nave.

Como não tenho carta de condução daquele bicho voador futurista, ainda demorei até conseguir arrancar com ele. Durante esse tempo, os diagramas de Venn saíram à rua e começaram a disparar contra a nave. Um 4236236 atingiu o flanco esquerdo da nave e um 2356 atingiu o direito, fazendo a nave oscilar descontrolada de um lado para o outro. Estávamos a perder altitude porque os escudos de electrões já estavam a ceder à pressão, quando calhei de carregar num botão que fez a nave dar um salto gigante, como se fosse sugada para o meio do vácuo, tal como acontece nos filmes antigos de cowboys zombies, em que a toda a hora naves espaciais são sugadas de um lado para o outro quando não têm mais que fazer.


Ao que parece, o Disco Voador veio parar novamente ao presente. Não ao presente quando estava no passado, na cena da casa da Anuket, mas ao presente em que estava antes. Antes, não numa perspectiva temporal, mas na perspectiva do post, que é como quem diz o presente de há vários parágrafos atrás. (Isto tudo para dizer que escrevi duas páginas inteiras e a única coisa que mudou desde o início é que neste momento tenho uma nave espacial toda esburacada em minha posse, dentro da qual está uma ET feia de quem me esqueci até agora, um urso de peluche feioso na mão e uma data de leitores aborrecidos e a bocejar.)


A nave arrasada caiu no meio do chão, junto ao lidl onde eu patinava. O airbag disparou, os cintos activaram-se e a nave desfez-se como se fosse feita de legos. Saí lá de “dentro” e olhei para os destroços. Dos destroços saiu a tal rapariga feia e detestável com quem eu me devia casar, segundo o que eu combinara sem intenções de cumprir. O que eu não sabia é que a Anuket tinha exagerado um pouco na descrição da “filha da coisa”: ela não tinha 3 metros de altura, não tinha verrugas peludas, não tinha um nariz horroroso, tinha sapatos azuis e, acima de tudo, não parecia saída do filme da autópsia de Roswell. Era, inclusivamente, bastante simpática, educada e cabeluda! Ia mesmo convidá-la para ir jantar ao restaurante tibetano que há em Lisboa, quando apareceu o espírito de Zé perante mim, esmagando-a por baixo dos seus pés descomunais.

neo: Por que raio fizeste isso?
Zé: Não podes perder a competição de desencalhar!
neo: Que tens tu a ver com isso?
Zé: Sou o enviado de um dos deuses Imperialistas, que se está a divertir imenso com as vossas competições.
neo: Ah.. está bem. Fico-te eternamente grato.
Zé: Não tens que agradecer. Tenho uma missão divina para ti.
neo: E o que é que eu ganho em cumpri-la?
Zé: A satisfação de venceres a Anuket!
neo: Qual é o plano?
Zé: Vês aquele microondas gigante que eu fiz aparecer ali junto à pista de atletismo?
neo: Deixa-me adivinhar: queres que eu construa uma montanha-russa com o metal derretido das peças do OVNI. Acertei?
Zé: Hmmm!
neo: ??
Zé: Hmmmmm!!
neo: Ahm?
Zé: Hmmmmmmmmm!!
neo: O que é que isso quer dizer?
Zé: Eu ia sugerir fazeres tostas mistas, mas essa ideia ainda é melhor! Faz antes isso para ver se a gente se diverte mais no mundo Imperialium.
neo: Então e o que aconteceu ao competir com a Anuket para vos divertir?
Zé: Quê?! Hop! Hop! Montanhas-russas não se constroem sozinhas! Ao trabalho!

Tendo dito isto, Zé desapareceu a rir-se como uma criança e a assobiar o épico hino do Imperialium...




PARTE 2: O parque de diversões temático Anti-Anuket!



Após aproximadamente um ano a trabalhar sozinho no deserto do Mundo Imperialium, que equivale a pouco mais de três minutos no mundo comum, o neopinguim finalmente acabara de construir aquela que seria possivelmente a montanha-russa mais assustadora e mais intimidante de sempre, com excepção daquelas cor-de-rosa e com muitos flamingos. Toda feita em verde garrido, ela possuía quatro loops seguidos, nos quais entrava a uma velocidade superior a 150 km/h, após uma descida vertiginosa de mais de 90 metros. Cada viagem demorava aproximadamente 2 minutos, que se pretendiam repletos de gritos de pavor. Possuía apenas um comboio, ao qual faltava uma figura feminina como as naus tinham, pois não houve metal suficiente para construir uma. O comboio tinha mais de 30 lugares, que prometiam dar aos seus utilizadores a viagem da vida deles. Foi baptizada de: “O Pé Demoníaco!”.


Estava na hora de testá-la. Sentei o Freddy no lugar da frente e pu-la a funcionar pela cabine do engenheiro. Tudo correu bem, excepto na chegada ao primeiro loop, durante o qual o Ursinho de peluche da Anuket saiu disparado a uma velocidade alucinante, voou durante quase 500 metros e foi embater violentamente contra um cacto mutante que fez questão de aparecer novamente neste post. O cacto, que se chamava Óscar, estava a dormir tranquilamente quando foi acordado pelo Freddy, em quem se vingou dando-lhe imensos murros e coices.
Voltei a testar a montanha-russa, mas desta vez prendi o Freddy como deve de ser. Por um grande infortúnio, ele...

Ok, vou ser sincero. Não resisti a meter lá o Urso outra vez sem o segurar com o ferro de protecção. Vi-o voar e embater contra o Óscar outra vez e a levar porrada novamente daquele cacto com narcolepsia.

Mas à quarta ou quinta vez, prendi-o propriamente e pude ver a montanha-russa a funcionar em toda a sua glória. Deixei-o lá estar durante umas seis ou sete voltas, só mesmo até ele ficar sem voz, inconsciente e a sangrar do nariz. Depois peguei nele e, sem limpar o sangue que manchava o seu outrora belo pêlo branco, enjaulei-o e fiz dele a atracção principal da minha Casa Assombrada à qual chamei “Covil da Anuket”. Esta Casa Assombrada foi construída junto a’ “O Pé Demoníaco!” e, tal como o resto do meu futuro parque de diversões temático, possuía um tema Anti-Anuket, tendo imagens e esculturas dela espalhadas por todas as paredes, dando especial relevo ao seu nariz, com o intuito de aterrorizar adultos e crianças que pagassem para lá entrar.




Contudo, e apesar de já ter tido bastantes clientes para quem tinha apenas duas atracções a funcionar há menos de uma semana, o meu parque de diversões tinha falta de mais divertimentos. Talvez uns carrosséis, ou umas bancas com jogos para palermas que gostem de gastar dinheiro... Claro que os lucros todos seriam a favor da causa da BAU, fosse para comprar armamento, instrumentos musicais, gomas ou até mesmo gambas. Embora mais as duas primeiras que as duas últimas.

A ideia era simples: construir quatro ou cinco barracas para vender gelados, algodão doce, refrigerantes, hambúrgueres, dióspiros e quaisquer outras porcarias que os membros da BAU tivessem a mais em casa, como aranhas, bolor ou humidade. Depois, usar os lucros destas casas de restauro para construir os carrosséis, escorregas aquáticos, carrinhos-de-choque, etc.

O único senão é que me faltava dinheiro para poder investir nas barracas e nos seus trabalhadores, mas para esse problema arranjei uma solução genial! Resolvi enviar um pedido de resgate à Anuket pelo seu Urso, exigindo uma maquia tão gorda quanto a própria Anuket. Para a convencer, arranquei um olho ao Freddy e enviei-lho num envelope. Teria enviado um dedo, como em todos os filmes em que há raptos, mas ele não foi afortunado o suficiente para nascer com dedos.



Passado uns dias (tudo porque aparentemente ficou com o jipe enterrado na areia por diversas vezes), a Anuket lá apareceu. Fiz questão que ela me entregasse o dinheiro em primeiro lugar, não fosse fugir com ele como fugiu da Coisa com o telemóvel. Depois, como sou má pessoa e sou tudo menos fofo, não cumpri a minha palavra e não lhe devolvi o seu Urso zarolho. Em vez disso, acorrentei-a na parte da frente do primeiro carro do comboio d’ “O Pé Demoníaco!”, amaldiçoando-a a andar na "primeira fila" daquela montanha-russa horripilante para o resto dos seus dias!! Ela era, de facto, a coisa mais barata e mais parecida com uma figura feminina que eu conseguia arranjar de momento. Era isso ou usava o Óscar, e ele dá coices.


E foi assim que, por ironia do destino, o dinheiro da própria Anuket acabou por salvar o “Parque Anti-Anuket” da bancarrota. As obras dos novos divertimentos já começaram e por todo o Mundo Imperialium se fala deste prodigioso parque de diversões que irrompeu do nada no meio do deserto e que possui uma montanha-russa com a forma de um pé e uma casa assombrada por um Urso sem um olho, como principais atracções.

Obrigado, Anuket!


neop.X

5 comentários:

Anuket disse...

Gigiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...vou-me vingar!!!ninguem faz mal ao meu freddy e sai impune...além disso essa que tu ias levar ao restaurante tibetano vai sofrer nesta vida ou na outra!!!!ISTO NÃO FICA ASSIM ...MESMO!!!

Lunático disse...

Antes de mais nada:

Não pode enviar Toques com tanta frequência

Damn, não era isto...

"Zé: Não podes perder a competição de desencalhar!"

"LOL!"

Quanto ao post, gostei bastante, tal como os anteriores. Nota-se que aqui há um esforço teu em ser verdadeiramente cruel ao fazeres aquilo tudo ao urso.
Inclusivamente ao cortá-lo ao meio e pô-lo em dois sítios ao mesmo tempo: na fila da frente do Pé Coiso; na casa assombrada como atracção principal.

E pronto, isto até está a ser bem mais divertido do que pensava. O comment da Anuket ali acima até me fez lembrar as juras de vingança que o vilão dos VR Troopers fazia no final de cada episódio.

Bom post.

Lunático disse...

Afinal não cortaste o urso ao meio coisissima nenhuma, erro meu... Se bem que acho que o devias ter feito!

Sara disse...

O que procurei para novamente encontrar este blog...Mas finalmente consegui, pois sabia que te iria encontrar aqui...... Neo, muita cena se passou embora nao tenhas tido 1 min para mim, para assim te explicar algumas coisas... És alguem que jamais esquecerei, um verdadeiro amigo, embora possas ja nem te lembrar de mim... Sara.. Porto.. Talvez te diga alguma coisa...

O peluche continua aqui........ E um amigo como tu, também, sempre...

Twinkle, twinkle little star......

Anuket disse...

Sara, já agora podias ter posto o mesmo comentário em todos os posts, não achas?!
Isto é como no euro-milhões quanto mais se joga maiores são as probabilidades de se ganhar o prémio!

;)

Cumprimentos,

Anuket*