sexta-feira, março 21, 2008

21/12/2012

O dia nasceu frio e cinzento, com vagos tons de preto aqui e ali, e de cesariana.

As pessoas que corriam no meio da rua, apressadas para ir trabalhar, faziam os possíveis para evitar os inúmeros tyranossauros-rex de 3 metros, mutados a partir de osgas na última guerra biológica, que andavam a surripiar discretamente as carteiras e malas-de-senhora aos turistas e às velhinhas.

Apesar de o aquecimento global e a falta de água terem causado a ausência de precipitação durante os três anos anteriores a esta narrativa, o Inverno Nuclear era agora responsável pela chuva abundante não só de neve tóxica, mas também de carapaus, trotinetas, decorações de Natal e passarinhos extraterrestres. Os últimos emigravam oscilantemente pelo planeta em busca da sua única fonte de alimento, o milho geneticamente modificado, causando a extinção de várias formas de vida subdesenvolvidas que dele dependiam, como as amebas, os jogadores de futebol, os professores catedráticos e os políticos.

Um outro incómodo que essas pessoas sofriam era a ocasional aceleração ou desaceleração do planeta Terra, em busca da estabilidade axial. Isto causava regularmente um desequilíbrio em massa da população humana, sincronizada com o esmagamento de pequenos insectos dípteros. Foi, no entanto, uma melhoria significativa em relação a quem afirmava que essa alteração dar-se-ia em apenas algumas horas, aniquilando todos os seres-vivos. Pior do que a total extinção, as pessoas que corriam no meio da rua deixaram de poder usar andas para ir para o emprego, e o sindicato dos palhaços animadores de rua anunciou greves constantes até que a Terra decidisse deixar de rodar como uma anormal.

O cáustico nevoeiro espesso impedia, já há uns anos, as pessoas que corriam no meio da rua de correr também no meio do céu. Os aviões comerciais estavam por isso impedidos de voar, servindo agora como lares a Ursos ciborgues, que governavam grande parte do mundo usando os seus implantes biónicos. Estes implantes permitiam-lhes tocar música de discoteca aos altos berros sem a necessidade que os seus antepassados tinham de estar perto dos seus carros. Assim, eles andavam pelo meio das cidades a espalhar o infernal ruído, tornando-o na segunda causa de morte mais frequente, somente superada pelo rhinoHIV, uma mutação do vírus da sida altamente contagiosa.

Todos estes problemas surgiram com a tentativa de resolver um problema que afinal não era assim tão grave, nomeadamente o do aquecimento global. No entanto, percebeu-se tarde demais, que era pior a emenda que o soneto, ou seja, descobriu-se depois de se desenvolver artificialmente uma árvore inteligente que supostamente iria resolver o problema por produzir oxigénio por 50 árvores. Cultivaram-se em massa. Acontece que esta árvore cansou-se de trabalhar para a raça humana, que sujava tudo de mostarda durante os piqueniques, e não só não produzia oxigénio, como ainda desenvolveu hábitos maus como o de fumar e o de participar em corridas à noite. Hábitos que, somados ao frio que sentia no Inverno e que as levava a queimar árvores a sério, geravam um excesso de gases de estufa na atmosfera e contribuíam ainda mais para o aquecimento global.

Tanto aquecimento fez com que a Gronelândia derretesse, congelando a França, que também derreteu seguidamente, e o gelo de ambos fez com que 95% de Portugal fosse submerso e toda a população portuguesa fugiu para o Luxemburgo. Como nem toda a gente coube lá dentro, o estado português agora governado por professores auxiliares (a lei dita que, morrendo os políticos, quem sobe ao poder são os professores catedráticos, as amebas, em seguida os jogadores de futebol, e finalmente os professores auxiliares do ensino superior), decidiu com toda a sua justiça e equidade, que todas as pessoas cujo nome começasse por I, N, T, Q, X, G, Z, Y, K ou W, deveriam ser atiradas ao mar num ritual que visava apaziguar o Deus Neptuno, para assim se travar o aquecimento global. Como? Não sei. Sei que não adiantou muito, porque depois disso, os sobreviventes, ou seja as pessoas cujo nome começava por A, B, C, D, E, F, H, J, L, M, O, P, R, S, U, V ou que não tivessem nome, foram obrigadas a pagar uma Taxa de Sobrevivência, para além do IVA, no valor de 61% em todos os artigos que comprassem. E, pior ainda, umas horas depois, um supervulcão entrou em erupção e matou todos os restantes.

Todos, excepto os grandes, valentes, portentosos, valiosos e valorosos guerreiros e guerreira da Brigada Anti-Ursos. Eram eles: Varg, Flahur, Rumba, Neo e Anuket . Estes guerreiros lutavam há já 9 anos pela libertação da Terra e, nesses 9 anos, conseguiram imensos feitos, como engordar 50 kg por não fazerem nada a maioria desse tempo. Quando decidiram ir lutar contra os inimigos: os dinossauros, as velhinhas, as árvores poluidoras, o eixo da Terra, os pássaros, os políticos, os vulcões, a constipação venérea, os Ursos Ciborgues, o milho, a França e o aquecimento global; deu-lhes uma dor de reumático e ficaram ali a chorar e a chamar pelas suas mães.

Foi então que, do espesso nevoeiro cáustico, apareceu D. Sebastião que, olhando assim por alto, decidiu que seria o D. Duarte Pio e os seus filhos lamparinas, que deveriam prosseguir a espécie humana na Lua. Pegou neles e voou para lá com os seus sapatos-foguete. O que “O Desejado” não sabia, mas também não o podemos censurar por isso, pois não era algo do seu tempo, é que ao sair da Terra a alta velocidade é preciso ter cuidado para não se bater com a cabeça num satélite geostacionário. Infelizmente foi isso que aconteceu e, nesse mesmo dia, viram-se três estrelas cadentes num céu violeta de fim do mundo.


Hey, é um final mau, mas era isto ou havia incesto.



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