sexta-feira, março 28, 2008

Saga da Lua

Gritos de Loucura

- Olá lobinho.

Se eu não estivesse gelado de frio e de medo, os meus membros e músculos paralisados com terror do que poderia acontecer, eu teria me derretido completamente com o calor e a sensualidade da sua voz.

- Ora, ora, não tenhas medo, estou aqui para te ajudar…

Ao acabar de dizer isso ela levantou-se. O som dos seus sapatos a tocar no chão rebentava com os meus tímpanos, enquanto que o seu rosto não largava o meu e com correntes invisíveis me aprisionava o olhar no dela. Ou isso ou chocolate, porque eu gosto muito de chocolate e poderia ser facilmente atraído por chocolate, se calhar ela poderia ser feita totalmente de chocolate, o que seria bom se nos próximos instantes ela me pedisse para eu come-la... coisa que não aconteceu.

- Eu sei que vinhas aqui procurando esclarecimento, um caminho, ou talvez… o que outrora eras…
- Xana, eu suponho… - Consegui falar tentando não ser prostrado por as forças que me invadiam. Ao que ela respondeu com uma sonora gargalhada.
- Vejo que já te falaram de mim. – Ela aproximou-se de mim e agarrou-me o focinho e aproximo-o da sua cara, eu tremi ao sentir a sua respiração tocar no seu pêlo. – Tu és tão fofo. Não consegues sequer imaginar o quanto eu desejo aprisionar-te aqui e seres meu para sempre…
- Skor! – O grito de Kaly ecoou pela caverna e eu senti o poder que a mulher exercia sobre mim a soltar-se e apenas por uns segundos consegui sobrepor a minha vontade á sua. Olhei para a entrar, conseguindo ver a Kaly apontando a sua besta e lançar uma flecha contra a minha opressora. Indo contra todas as minhas esperanças o seu ataque falhou, pois antes de chegar perto de Xana, a flecha congelou e caiu no chão como um bloco pesado de gelo. O olhar glacial virou-se para Kaly, projectando-a para trás como se tivesse sido atingida por uma tempestade e em seguida voltou a focar-se em mim continuando com a voz melosa e sedutora.
- No entanto, como eu ia a dizer antes daquela intrometida se intrometer com as suas… intrometidices, as minhas irmãs, não querem que eu me divirta e querem que simplesmente te ajude. – Ela suspirou soprando para afastar a franja ruiva dos seus lábios. – E eu não quero que as minhas maninhas andem a atazanar-me o juízo porque eu não acredito têr sanidade suficiente para aguentar com as retóricas delas e as leis e… enfim.

No momento em que ela disse enfim eu senti-me desorientado, como se estivesse á muito tempo sem me pôr sobre as minhas patas e agora que me punham no chão ele estava coberto de cascas de banana e pastilhas elásticas, o que seria desagradável se eu caísse mas que parecia ser a única hipótese. Até que, como se nada o fizesse esperar, senti-me bem não havia vertigens não havia submissão, não havia a estranha sensação que cheirava uma loba com o cio… sim eu estava a sentir isso… sou um animal! Dê-me crédito!... Continuando…

- Olha para mim lobo. – Ordenou a mulher mas com uma voz muito mais inocente do que com a que me tinha falado antes. A minha cabeça ergueu-se para lhe olhar nos olhos e então reparei que ao contrário de todo o resto do seu corpo, os olhos eram azuis como o gelo que nos rodeava e possuíam uma simpatia única.
- O que é que tu estás a tentar tramar. – Inquiri eu. É claro que não me ia deixar enganar pela simpatia que eu sentia vinda dela, só podia ser uma manipulação qualquer imposta por ela. No entanto ela limitou-se a sorrir. – Eu não entendo o que se passa aqui!
- Somos quatro irmãs. Cada uma governa o seu espaço no céu e cada uma tem o seu tempo em cuidar do mundo abaixo de nós.
- Vocês… Deusas? – Perguntei com algum temor da resposta. Ela gargalhou um pouco antes de me responder
- Não lobinho, se fossemos Deusas não nos teríamos de preocupar com o mundo. Mas isso são outros assuntos que não são importantes para aqui. O que importa é que… - antes de continuar ela ajoelhou-se á minha frente e passou-me a mão pela cabeça acariciando-me o pêlo. Soube extremamente bem para alem que até á minutos pensava que me ia matar… e até á mais uns minutos pensei que era feita de chocolate. – … Precisamos de pegar em ti e pôr-te como eras…
- Como eu era? Tu sabes como eu era? Tu sabes sobre o meu passado?
- Oh sim. Soube-se muito de ti quando saiste na Caras e na Maria… e noutras revistas de interesse quando os tiranos do mundo estavam na moda. Por acaso foste bem classificado, normalmente em segundo ou terceiro. – Ela mostrou-me um sorriso brilhante e caloroso enquanto me coçava atrás da orelha – Nem queiras saber o quanto fiquei orgulhosa.

Tentei falar-lhe, questionar-lhe sobre o que ela dizia. O que ela queria dizer sobre tirano, as palavras dela faziam crescer o meu medo em lembrar-me do que eu era… e se eu fosse um ser maligno… e… se o que eu era não fosse compatível com o que sou agora, nunca conseguiria viver comigo mesmo com as atrocidades que teria feito.
O caos destruía a minha cabeça com as questões que surgiam mas eu não conseguia reagir, conforme a mão dela acariciava-me o pêlo, eu sentia as minhas energias a desvanecer. Era ela quem fazia isto? Não tive tempo para saber a resposta, os meus olhos fecharam e a ultima coisa que senti foi o seu abraço.

Depois… escuridão.

Não havia nada. Não havia sons, não havia calor ou frio, não havia medo, não havia conforto. Gradualmente comecei a sentir calor, como se duas mãos passassem em cima de mim e me fossem acariciando com uma energia sobrenatural, após esse calor desvanecer apenas havia dor. Uma dor imensa que fazia a minha mente gritar em agonia, numa sôfrega tentativa de me manter ligado a este estado negro de consciência. Minutos passaram mais parecendo horas, o calor desvanecia completamente do meu corpo mas por outro lado a dor também desvanecia e de repente outra vez o nada. Passou mais tempo, não sei dizer o quanto. Só existia escuridão, não havia medo, sensação, nada! Talvez tenha visto uma fila de esquilos a correr á minha frente, ou talvez isso fosse simplesmente culpa da Kaly, mas nada parecia mudar. Até que o calor voltou, temi mais dor mas fui completamente envolvido por ele. Sentia o total do meu corpo e sentia-me estranho como se já não fosse eu.
A luz voltou aos meus olhos como se o sol brilhasse directamente em cima deles. Senti-me confuso e desorientado tentei mexer o meu corpo mas não consegui. Conforme a sensação voltou ao meu corpo, consegui sentir que algo me agarrava, um braço e uma perna cobriam-me enquanto que outro braço passava por baixo do meu pescoço, mas a sensação era tão estranha que não conseguia retirar o pânico da minha mente. O meu olhar começou a focar o mundo que me rodeava e a primeira imagem que a minha mente viu, ainda que desfocada, foi a cara de Xana. O seu sorriso que eu me arriscava a caracterizar de carinhoso, o seu olhar gelado mas que neste momento me transmitia ternura, o seu cabelo vermelho caía por cima de um pêlo negro que nos cobria o chão, o que era algo estranho, pois aquele pêlo era algo parecido ao meu. Gritei de horror e saltei desastrosamente para trás, notei de imediato que a minha voz se encontrava mais aguda, a segunda coisa que reparei foi que algo amarelo apossou-se da minha vista. Após uma tentativa frustrada de retirar essa coisa de perto de mim constatei dolorosamente que estava agarrado a mim, foi então que me apercebi do que era: Cabelo.
O choque inicial quebrou o que restava da minha calma e gritei com todo o ar que tinha nos pulmões durante um bom bocado. Quando a minha voz deu lugar ao silencio observei tremulamente as minhas mãos, delicadas e suaves tremiam perante os meus olhos, tinha braços e pernas em vez de patas e o pêlo que cobria os nossos corpos nesta sala de gelo era nada mais do que o pêlo que outrora fora meu, em cima dele Xana continuava deitada observando-me deliciada com a minha reacção e passando com a sua mão pelo seu corpo.

- O que é que me fizeste? – Gritei, tremendo como um galho verde.
- Precisavas de ajuda, esta é a ajuda e eu disse que te iria dar. – Respondeu-me ainda com o mesmo sorriso na cara.
- Mas… Mas o que tu me fizeste…
- Vê por ti mesma. – Cortou ela erguendo a mão.

Engoli a seco só de ouvir o último comentário por ela feito. Á minha frente ergueu-se uma parede de gelo que tomou uma textura reflectiva e por fim podia ver como me tinha tornado. Tinha uma estatura alta e esguia, com longos e finos braços, tinha olhos azuis e gelados como os de Xana, lábios finos e um nariz bem feito. O meu peito era bastante simples e modesto, enquanto que as minhas ancas podiam parir um exército.

- Eu… - Gaguejei.
- Estás linda. – Continuou Xana espreitando por detrás do espelho.
- Eu era um lobo! – Corrigi-lhe com alguma fúria. – Não uma loba!
- As revelações do físico e as suas linhas nem sempre são claras minha linda. - Respondeu-me ela gargalhando. – Mas se quiseres posso retirar-te esse corpo.
- Não! – Entrevi eu rapidamente antes que ela tomasse uma decisão. Para dizer a verdade estava algo fascinado (se calhar devesse dizer fascinada afinal) – Eu… agradeço.

A Xana veio para perto de mim carregando o meu pêlo nos braços. Sacudiu-o e depois colocou-o em volta dos meus ombros, surpreendi-me ao sentir o pêlo a moldar-se ao meu corpo e transformando-se ao fim de segundos em roupa para me cobrir o corpo todo. O negro agora da minha roupa contrastava com a luminosidade das minhas feições e envolta naquele casaco de pêlo negro o meu porte era algo intimidador e quase irreal. Tremi ao observar-me e por um instante, senti que me conhecia.

1 comentários:

Lunático disse...

Ahah! Com este passo dado, finalmente vais pôr hot lesbian sex nos teus posts! Já estou mesmo a ver:

- A Skora scora com a Unga.
- A Hugin com a Munin, às escondidas sem que o Flahur saiba.
- A Navegante da Lua, ou o que resta dela, com a Xana.
- Por fim, todas as personagens femininas do Viteus aparecem para um bacanal final! Ou então para espancar o Roel...

...
Agora a sério, gostei do post. Principalmente, do suspense gerado antes da sua conclusão.
Para quando a sua continuação, hein hein?

Bom post! Bons blogs!