segunda-feira, fevereiro 05, 2007

996

(este post é a continuação de um outro post que pode ser encontrado aqui: 966)


A chegada da noite arrefeceu o último dia do planeta Terra.

Bernardo acordara sobressaltado do pesadelo que tivera e levantava-se agora da cama a cambalear. Dirigiu-se lentamente para a janela e, ainda meio tonto, recordou o seu sonho.

Uma pequena mulher com asas flutuava perto dele enquanto ele se vestia. Pedia-lhe dinheiro e perguntava-lhe insistentemente onde tinha estado na noite anterior. Apesar de ele não se lembrar dela, sabia que já a tinha visto antes. Era assim todas as noites.

De repente, quebrando o silêncio fúnebre habitual naquela hora tardia, ouve-se um enorme estrondo lá fora, indicando um grave acidente. Bernardo apressa-se a ir ver o que se tinha passado.

Uns metros abaixo da sua casa andavam os bombeiros, polícia e força aérea à procura da zona do acidente. Mas como não conseguiram encontrar, foram-se embora.

Bernardo observou horrorizado a destruição que o carro sofreu ao embater violentamente contra um candeeiro de rua. O condutor fora decapitado pelo esticão do cinto de segurança, criando uma apoteose de sangue escarlate nas paredes do habitáculo do automóvel. No lugar do morto estava uma enorme poça de alcatrão negro, que escorria pela rua fora. Nos assentos de trás, encontrava-se deitada uma pequena mulher desmaiada.


E Bernardo ainda mais horrorizado ficou quando descobriu que as vítimas do acidente estavam a ouvir Sérgio Godinho!!

Mas as surpresas não tinham acabado ali! Ao tentar socorrer a mulher que estava inanimada no banco de trás, vê que ela era nem mais nem menos a mesma que atormentava os seus sonhos há várias semanas!

Como se tal não bastasse, mais surpresas se avizinhavam! Observando melhor o carro pôde ver que este não era um carro mas sim um triceratops oco por dentro, e, como se não chegasse, este não tinha chocado contra um candeeiro de rua como pudera ver antes, mas contra a sua alteza, rainha de Inglaterra.



Felismino, um vizinho de Bernardo, também não conseguia dormir e, como estava aborrecido, resolveu ir à cozinha buscar um pacote de gomas. Tinha acabado de o abrir quando ouviu um estrondo vindo lá de fora. O sobressalto fê-lo deixar cair o pacote e correr para a janela, para ver o que se tinha passado. Conseguiu ver um animal estranho ferido à porta da casa do Bernardo, bem como este seu vizinho agachado de volta dele. Subitamente, viu-o levantar-se e, com os olhos fechados como num transe, dirigir-se para as traseiras da sua própria casa, murmurando as misteriosas palavras “preçooooo certooooo...”.

Quando Felismino deu por si, reparou que já não tinha o pacote das gomas na mão e começou à procura dele pela casa toda, só o encontrando quando uma goma com 2 metros de altura lho estendeu amigavelmente.

Felismino agarra no pacote, agradece, e volta para o quarto, quando de repente apercebe-se do que o narrador tinha dito na última frase do parágrafo anterior. Em pânico, tranca então a porta do seu quarto para se proteger da monstruosa guloseima. Enervada por ter sido a excluída das suas colegas do saco, a goma gigante decide assassinar o seu ex-futuro consumidor e começa a rebolar derrubando não só a porta, como também a parede do seu quarto. Este pequeno caos provocou um abalo na estrutura da casa, fazendo o pesadíssimo candeeiro no quarto de Felismino cair brutalmente sobre a cabeça da Goma, que precisou de vários minutos para se recompor.

Encurralado pela dorida goma gigante e sem grandes alternativas, Felismino decide saltar pela janela. Num movimento brusco, coloca um pé em falso no parapeito e cai de cabeça do seu segundo andar, ficando inconsciente por algumas horas. A Goma, após espreitar pela janela, ficou convencida que a sua presa estava morta e resolveu ir ver um DVD para a sala de estar enquanto comia sugos. Sugos esses que, encontrando-se especialmente sombrios naquela fatídica noite tenebrosa, resolveram pregar uma partida malvada à Goma e engasgaram-na propositadamente. A Goma, tossindo quase todo o seu sistema respiratório para fora do seu pegajoso corpo, dirigiu-se à cozinha aos tropeções, encontrando antes a despensa cujo conteúdo estava atulhado e quase a transbordar. Ao abri-la, caíram-lhe em cima diversas embalagens de feijão, arroz, cereais e fritos juntamente com latas de atum, salsichas e cogumelos. Meia cega e a coxear, lá deu com a cozinha e com o frigorífico, mas em vez de agarrar na garrafa de água, acabou a beber meia embalagem de sonasol amoniacal. Cada vez com maior dificuldade em respirar, questionava-se o que fazia uma garrafa de detergente no frigorífico quando finalmente deu com um garrafão de água no chão, junto ao lava-loiça. Ao dirigir-se lá, bateu com o pé na perna da mesa, tropeçou num chinelo esquecido e foi bater com a cabeça no balcão. Esta estava a ser, sem sombra para dúvidas, uma noite-não para aquela infeliz goma.



Otávio também ouvira o acidente. Como tinha trocado os seus binóculos por apenas dois murros na barriga com o rufia da sua escola, teve de ir a pé ao sítio onde tinha ouvido um carro bater, para saber o que se passava.

Depois de lá chegar encontra um triceratops a cambalear de um lado para o outro e a Rainha de Inglaterra caída e a estrebuchar.

Apanhando-o de surpresa, uma cabeça rebola pelo chão e trinca-lhe um atacador do ténis. Otávio, assustado, recua, o que faz com que os atacadores se desatem e o ténis lhe salte do pé.

Um corpo decapitado, ao ouvir um assobio vindo da sua cabeça, sai de dentro do triceratops pela porta do condutor, e apanha-a do chão.

Otávio, horrorizado, foge o mais rápido que as suas pernas lhe permitem. O degolado não perde tempo e começa a persegui-lo, driblando a cabeça como uma bola de basket.

Enquanto Otávio se defendia com um taco de baseball das investidas da cabeça, agora atada a um elástico, que lhe tentava morder o pescoço de cada arremesso feito pelo seu respectivo corpo decapitado (cinturão negro em artes marciais com especialização na cadeira de matracas), Felismino acordava cheio de dores depois da queda que sofreu. Por uma incrível e inexplicável coincidência, acordou mesmo a tempo de ouvir o diálogo entre uma bela fada azul e o horrendo resultado de uma experiência de laboratório com uma mulher feia que correu terrivelmente mal, reconhecendo-a como Polga. Elas conversavam a 5 metros de si, ignorando a sua presença.

Fada: "Sabes a combinação do euro-milhões para esta semana?"
Polga: "Melhor do que isso migá! Eu tenho o prémio aqui nesta mala!"
Fada: "Mas como é que--"
Polga: "Oh minha cara amigá, isto de ser professora-demónio não é só passar os alunos... também traz as suas vantagens!"
Fada: "Por favor. Eu preciso mesmo disso."
Polga: "E isto será teu. Só é preciso que honres a tua parte do acordo. A tua missão é demasiado importante para falhares."
Fada: "Eu conheço a tua fama de caloteira. Metade agora. Metade depois. Que tal?"

O que Polga não sabia era que para o terrível plano da Fada, metade era mais do que suficiente.


Felismino viu Polga a aceitar a proposta da estranha fada. Depois de dar metade do dinheiro que tinha na mala, Polga dá uma tripla pirueta e transforma-se num bando de morcegos que voam para fora do alcance visual de todos.

A anã azulada após se virar depara-se finalmente com Felismino.

- Não tenhas medo.

Ela aproxima-se tirando uma pá azul e um saco de plástico azul dos seus bolsos azuis.

- Toma. Dentro do saco estão chuchuzeiros pré-semeados.
- Isso come-se?
- Eu não quero que tu os comas! Eu quero que os plantes naquele quintal!
- Então não quero.
- E se te der um saco de gomas em troca?
- Não me fales em gomas!
- Uma televisão azul da Grundig? - continuou a fada, procurando nos seus bolsos.
- Não.
- Charutos cubanos?
- Eu não fumo.
- Um pacote de jelly beans?
- Onde é que tenho que plantar os chuchus?
- Naquele quintal ali.
- Acordado!

Felismino caminha em direcção ao quintal de Bernardo, enquanto assobia as músicas do "Tubarão".

A anã alada esfrega as mãos de contente e lança um pó mágico ao ar que, numa explosão, faz aparecer um avião a jacto e um livro que tinha escrito na capa: "Como Aprender a Voar Enquanto O Narrador Diz o Título".


Felismino vê do quintal de Bernardo um avião a jacto levantar voo e a desaparecer no firmamento.

- Estranhas coisas têm acontecido ultimamente... - suspirou, enquanto começou a cavar.


Já o esburacamento ia bem avançado, quando o seu trabalho é interrompido pelo que lhe parece ser um choro de bebé vindo de uma barraca de madeira à sua frente.

A noite estava tão escura que até o quintal de Bernardo parecia a mais assombrada das florestas e, portanto, até o berro de uma criança era assustador.

Felismino, não sabendo o que havia de fazer, começa a roer as unhas acompanhando com jelly beans e uma gasosa de limão. O vento ocasionalmente fazia-se ouvir parecendo trazer consigo palavras soltas numa voz sibilante.

Felismino ganha coragem após a sua vigésima primeira unha e cautelosamente abre a porta da barraca de madeira.

Um restolhar atrás de si impossibilitou-o de continuar. Um vulto com enormes proporções aproxima-se, fazendo os seus joelhos tremer de medo.

Ao aproximar-se, reparou que era a gigante Goma. Desta vez ela trazia uma chave de fendas na mão e diversas nódoas negras pelo corpo todo.

- En garde! - grita o monstruoso doce antes de começarem os dois numa épica luta de esgrima de enxada contra chave de fendas. Contudo, a Goma, canalizando toda a fúria dos desastres que lhe aconteceram no sentido de se vingar de Felismino, não se apercebeu do buraco recém-cavado que se encontrava no meio do quintal de Bernardo e mergulhou de cabeça lá para dentro, fracturando duas costelas e ficando imunda em terra e adubo natural. Felismino, sem pensar duas vezes, foge para a rua onde dá de caras com uma cena ainda mais invulgar.

O seu amigo e vizinho Otávio estava no meio da rua com as pernas e os braços amarrados, dando pequenos saltos de um lado para o outro, tentando-se desviar daquilo que parecia uma bola de bowling a derrubar cinco pinos fora do normal. Eram eles: Otávio, o cão de Felismino, a Rainha de Inglaterra, o Sô Sousa e o homem que Felismino reconheceu como sendo o árbitro de wrestling que arbitrara o combate de Polga contra um mosquito gigante, três meses antes. Após uma cuidada observação, percebeu que a bola que os tentava derrubar era, de facto, a cabeça desse próprio senhor que servia-se a si próprio como pino naquele jogo tétrico e desumano. Esperou pacientemente pela altura em que a cabeça fosse anotar os seus pontos, algo que fazia facilmente escrevendo com a boca usando o lápis que prendia na orelha e, quando tal aconteceu, correu a ajudar o seu amigo. Mas a cabeça apercebeu-se disso e assobiou alto para que o seu corpo os detivesse. O corpo correu atrás da sua cabeça guiando-se pelo som, pegou nela e atou-lhe um elástico rapidamente. Tudo isso enquanto Felismino tentava em vão soltar o seu amigo. De seguida, começou a chicotear violentamente Felismino que corria desesperado em todas as direcções gritando a plenos pulmões.

Aquela chinfrineira toda acordou a goma titã que estava no buraco a dormir e a sonhar com nuvenzinhas e outros objectos fofos e confortáveis. Saiu de lá a custo, após ter escorregado de novo lá para dentro repetidas vezes, e dirigiu-se para a rua. Assim que passou o quintal e pôs o primeiro pé na rua, levou uma valente cabeçada da agora desgovernada cabeça do árbitro, que se soltara do elástico.

A gigante e azarada goma teria se vingado em seguida do árbitro, se um avião a jacto azul não lhe tivesse aterrado em cima. Quem o pilotava era a fada azulada, que saltou para o chão com uma arma de vários tons de azul nas suas mãos (que também eram azuis).


Sem que alguém tivesse tempo para pestanejar, contar até 10000 e ler as obras completas de Júlio Verne, esta dispara da sua arma um raio azul clarinho que faz ricochete nos óculos da Rainha da Inglaterra e acerta em cheio na gigante goma que se estava a levantar, fazendo com que esta voltasse ao seu tamanho normal.


Enquanto ela rastejava a caminho do saco de Felismino para junto da sua família de guloseimas, aparece um gavião que a eleva no ar só para a deixar cair nuns espigões de metal no meio da estrada. É ouvida então uma voz rouca e agressiva vinda dos céus a dizer: “FATALITY!”


Nesse exacto instante, do mesmo local de onde a voz surgiu, a malvada Polga aterra no meio da rua, criando uma cratera gigantesca e fumegante, e dá uma gargalhada dissonante que faz o chão tremer de pavor. Aproximou-se rapidamente da Fada Azulinha e apontou-lhe um apagador negro ao pescoço. A Fada Azul, prevendo o que se seguia, rodou a máquina redutora, apontando-a ao Felismino, que tinha parado de fugir do árbitro, pois estava com dor de burro.

- Fizeste o que te mandei? – perguntou a Polga à Fada, com uma voz ameaçadora.
- Fizeste o que ela me mandou? – perguntou a Fada ao Felismino, com uma voz delicada.
- Fizeste o que ela lhe mandou? – perguntou o Felismino à atmosfera, com uma voz de grunho.

Seguiu-se uma pausa em silêncio. Todas as personagens entreolhavam-se sem entender o que se passava e somente se ouvia o piar de um mocho, nos horizontes das trevas.


- Ele diz que fez. – respondeu o Felismino.
- Ele di... – começou a fada.
- Sim! Eu ouvi o que ele disse! – interrompeu a Polga – Mas tu és maluco ou fazes-te?
- És maluco ou fazes-te? – perguntou Felismino à atmosfera.

Polga olhava incrédula.

- Ele diz que se faz, mas só nos dias pares. – respondeu após alguns instantes.


Irritada, Polga tirou das suas costas uma pá malévola fabricada nos confins do Inferno e deu uma pazada na cabeça do Felismino, deixando-o inconsciente. Fez o mesmo a Otávio, que ainda estava amarrado no meio do chão, e arrastou ambos até ao quintal do Bernardo, seguida de perto pela Fada Azul.


Chegando lá, a Polga acordou o inconsciente Felismino com outra pazada e desamarrou o Otávio, também como uma pazada (não me perguntem como). Estendeu uma pá ao Felismino e outra ao Otávio quando este se levantou.


- Agora cavem, suas Amélias.
- Mas já está ali um buraco gigantesco, que eu cavei nem há 10 minutos – protestou o Felismino.
- Sim, mas esse não serve.
- Como, não serve?
- Não serve.
- Não serve? Mas é um prodígio de buraco! Nem na Dinamarca se cavam buracos com esta qualidade!
- Qualidade? Aquilo está tão mal cavado que até parece ter sido feito pelo teu cão zombie!
- Mas...
- Já te disse que não serve! Queres que eu te ponha a fazer equações?
- Pronto. A gente cava.
- Acho bem.

Felismino e Otávio pegaram lentamente nas pás, resignados com o trabalho que tinham de cumprir. Cavavam nem há dois minutos, quando Felismino voltou a incomodar Polga, que pusera os seus óculos escuros e se tinha sentado numa cadeira reclinável por baixo de um chapéu-de-sol, a beber uma caipirinha.


- Senhora demónio, desculpe lá...
- Que foi, caraças!? – respondeu a Polga com maus modos.
- Eu estava aqui a pensar... não seria muito mais rápido se você fizesse aparecer uma dessas pás mágicas para o meu amigo imaginário cavar também?
- E tu interrompeste o meu bronze para me perguntares isso?
- Bronze? Mas não é de noite?
- E eu não sou uma Demónio? Já alguma vez ouviste falar de um demónio fixe que se bronzeasse de dia?
- O Ashmed?
- Bah! O Ashmed era tudo menos fixe. Não ouviste dizer que ele tirava macacos vivos do nariz?
- Eww... nojento.
- Podes crer! – concordou Polga.


Depois deste momento, nasceu uma suave empatia entre Felismino e Polga, que acabou por dar-lhe uma terceira pá para o seu amigo imaginário cavar. Quando o fez, Felismino estendeu-a ao seu amigo e a pá agitou-se no ar três ou quatro vezes, caindo no chão seguidamente. Depois, no instante seguinte, a pá viajou quase 200 metros em menos de 2 segundos, acertando mesmo em cheio na cabeça da Rainha de Inglaterra, que desmaiou novamente. Ouviu-se um “Oops!” vindo da pá, enquanto esta dançava alegremente pelo ar como uma criança voadora.


“Lá lá lá lá”, cantarolava a pá aos saltinhos, rodopiando e bailando com vontade própria.

E a divertida pá pôs toda a gente a dançar ao som e ritmo da sua cantoria. Polga dançava com Felismino, enquanto Otávio, ainda amordaçado, dançava com a Azulinha. O árbitro decapitado começou a dançar com a ainda desmaiada rainha de Inglaterra, e o cão zombie de Felismino dançava com o Sôr Sousa. Até o saco com os chuchus pré-semeados dava umas cambalhotas desajeitadamente enquanto assobiava ao som da música.

Aparecendo do nada, um coro operático formado por centenas de pessoas começa a cantar a melodia que a pá trauteava, harmonizando de forma magnífica a música gloriosa que parecia ser a sinfonia daquela pá. Por todo o lado começaram a aparecer violinos, trombetas, harpas, tubas e outros instrumentos orquestrais, que se tocavam sozinhos enquanto a pá planava para trás e para a frente de forma alucinada.


Naquele que era o clímax do concerto fantasma, que fazia lembrar o melhor dos musicais da Disney, a pá elevou-se no ar juntamente com as suas duas amigas que estavam nas mãos de Otávio e Felismino antes de estes terem começado a dançar. Os violinos trinavam violentamente, os tambores rufavam fazendo vibrar o chão e uma ou outra pandeireta timidamente marcava o compasso de forma inaudível. As pás estavam a terminar o seu número de ballet aquático em pleno ar quando, para grande espanto de todas as pessoas e até mesmo do narrador, as três pás se transformaram na versão mais demoníaca de que há história dos três porquinhos e começam a cuspir fogo por todos os presentes que dançavam alegremente.


A alegria transformou-se em desespero à medida que as pessoas começaram a ver que estavam a arder e não conseguiam parar de dançar. Os três porquinhos voadores tinham agora pegado em três canetas sem carga e deliciavam-se a espalhar o terror entre os cantores do coro, projectando pequenas bolinhas de papel impregnadas em cuspo corrosivo. Os dançarinos tentaram abrigar-se onde conseguiam, mas não era o suficiente. Muito menos quando as dezenas de instrumentos em chamas faziam lembrar meteoros em rota de colisão com qualquer coisa que se mexesse, enquanto tocavam algo desafinado saído do pior filme de terror.


Foi então que um deles atingiu impetuosamente a barraca de madeira fazendo chover carvão em brasa pelas cabeças de todos os presentes, que rebolavam no chão coordenadamente sob o comando de um bombeiro com um megafone. Polga, que esteve abrigada por baixo do seu chapéu-de-sol este tempo todo, vendo a barraca das ferramentas explodir, teleportou-se para esta em pânico e agarrou uma embalagem que lá estava encoberta, pontapeando acidentalmente a cabeça de Bernardo, que tremia no meio do chão depois de ter sido explodido juntamente com a barraca. Não pediu desculpa e saiu instantaneamente do meio daquela confusão, deixando para trás uma névoa negra e levando o seu maior tesouro, a estranha embalagem sombria, nos seus braços.


O que Polga desconhecia é que na janela mais alta da casa de Bernardo, lá em cima no sótão, por entre teias de aranha e armários repletos de esqueletos, um ser misterioso se sentia frustrado agora que percebera que o seu ambicioso plano acabara de falhar redondamente.


História horripilante relatada em conjunto por Neoclipse e Lunático.
Algumas ideias e apoio psiquiátrico fornecidos por Anuket e Vargtid.
Bolo-rei fornecido pela Rainha de Inglaterra.

9 comentários:

Lunático disse...

Bem, eu não fico descansado até comentar tudo antes de começar a faina desta semana. Cá vai então:

Esta é bem capaz de ser a melhor história postada pelo "Bacalhau!" até agora. Tem terror, tem ficção científica, tem acção, tem drama e ultrapassa o original (966) em insanidade e humor.

Vargtid disse...

Epah, foi assustador, comigo e epico.
Para alem do mais, o final em aberto deixa o leitor com vontade de mais, bom post pelo bacalhau imperialium!

Nerzhul disse...

Bem, eu continuo a preferir o primeiro.

Anuket disse...

a parte que tu fizeste está um "post assim assim"...

ps: agora que já me vinguei e te critiquei só pelo simples vicio, vou ler o post que ainda não o li!

Nerzhul disse...

Essa atitude foi tão dantesca. Devias ter vergonha em te comportares como um Urso.

Anuket disse...

Os ursos poem carradas de gel no cabelo sabias???Peneireinto...
Agora falando do post ou melhor dos posts (este e o anterior da saga) estão mesmo cómidos e marados como eu gosto! simpatizei com o cão!!!lolol
Que o próximo esteja à altura destes dois!

Boas postadas Bacalhau!!!!


Anuket*

Nerzhul disse...

Até me admira, tendo em conta a parte influente que eu tive na escrita deles.

Anuket disse...

Estou a ser imparcial...eu sou sempre...e é bem feita que tenhas remorsos por aquilo que me chamaste...

Nerzhul disse...

Eu nem sequer tenho consciência. Como posso ter remorsos?