domingo, fevereiro 04, 2007

Um lobinho sem nome

A luz fugia com o sol, enquanto a lua brilhava alto no céu iluminando o mundo com uma escuridão assustadora.

Essa foi a minha primeira visão quando acordei, perdido e confuso no meio de uma floresta que muito me era desconhecida. Sentia-me estranho, não como quando tinha comido panquecas a mais, daquelas com caramelo, mesmo muito caramelo que me deixavam quase a abarrotar. Era uma sensação de que algo estava errado comigo, não tinha sensação nas minhas mãos, tinha uma coisa estranha a tapar-me o nariz, passava-se algo de muito errado com as minhas pernas e pior que tudo, não me conseguia levantar tendo de me manter a gatinhar. E assim, sofrendo com esta estranha condição, aproximei-me de um grande lago, estava morto de sede e já que não havia máquinas de latas nesta floresta este lago era a melhor opção. Ao aproximar-me o meu coração dispara vendo que reflectido na água cristalina não estava o meu ser, mas sim um grande lobo negro que me fitava com um olhar aterrador.

Eu: mas o que é que me está a acontecer.

Por mais aterrador que tenha sido ver o reflexo a mover a boca conforme as palavras surgiam da minha boca, mais aterrador ainda foi o que se seguiu: um forte arrepio correu-me a espinha seguido de uma imensa dor, sou erguido no ar por uma força imensa que me agarra numa parte do corpo que nem eu sabia que tinha, aterrorizado que um pudesse ser um urso a aproveitar-se da minha débil situação eu tento soltar-me esperneando até que um grito histérico atravessa o ar e os meus ouvidos como mil trovões.

Mulher: AIIIII QUE LOBINHO TÃO FOFINHO!

Apercebo-me que o meu medo era em vão, pois não existiam ursos fêmeas e os flamingos não tinham mãos nem força para me levantar daquela maneira, então, confiante que quem me subjugava não era um inimigo mortal gritei em confronto.

Eu: mas tu estás doida? Põe-me no chão neste instante!

Onde fui buscar tal palavreado não sei, mas que funcionou lá isso é que não, pois em vez de me colocar no chão ela virou-me ao contraio e pude observa-la ficando tanto ou até mais em choque que ela. Ela não deixava de ser bonita, se conseguíssemos passar pela cor azul, os caninos inferiores grandes e as estranhas formações ósseas nos ombros... pelo menos era ruiva…

Mulher Azul: tu falas?
Eu: o que é de muito estranho nisso? Tens alguma coisa contra eu falar?
Mulher Azul: não… mas eu nunca…
Eu: sim?
Mulher Azul: onde é que tu aprendeste a falar?
Eu: que pergunta mais estúpida essa, então onde…
Mulher Azul: ….
Eu: … não me lembro…
Mulher Azul: é que é muito estranho ver um lobo a falar.
Eu: um lobo a falar? Estás parva não? …. Espera lá, porque é que dizes isso?
Mulher Azul: então ora, porque tu és um.

Como se não bastasse a desconfortável sensação que eu estava a sentir no meu corpo pior que tudo era receber uma explicação tão lógica e ao mesmo tempo, tão indesejada e portanto como homem que era e lobo que sou, fiz a coisa mais indicada nesta situação: esperneie e berrei que nem uma menina, algo que por fim fez a azulinha largar-me, o que não foi mau de todo. No entanto o choque continuava na minha mente.

Eu: Tu sabes o que é que isto significa? As coisas que eu não posso fazer? … As coisas que eu posso fazer… oh por Oden! O nojo!
Azulinha: por quem?
Eu: por quem o quê?
Azulinha: o nome, o nome que tu dissestes.
Eu: eu não disse nome nenhum.
Azulinha: dissestes sim!
Eu: ei! Eu sei o que disse e que não disse e eu não disse nome nenhum.
Azulinha: dissestes sim! Dissestes Oden!
Eu: então se sabes o que disse porque é que me perguntastes?
Azulinha: precisava de confirmar.
Eu:
Azulinha:
Eu:
Azulinha: … e então?
Eu: então o quê?
Azulinha: dissestes ou não?
Eu: epah, já não disseste que eu disse?
Azulinha: mas tu não confirmaste.
Eu: pronto eu confirmo!

Se calhar não devia ter dito isto, pois os olhos da azulinha brilharam como dois sóis quando confirmei aquilo que ela já sabia. Abraçou-me pelo pescoço com uma força tão grande que eu pensei que o meu pescoço ia partir-se logo ali. Foi uma reacção estranha de facto, mas não pior do que a minha estranha condição, a transformação do meu corpo e da minha mente e uma estranha amnésia que me tinha feito esquecer de quem eu era, mas não de como era o meu antigo ser. Por entre memorias vagas de uma floresta esquecida, uma corte negra, decisões diabólicas, sumos, uma corte menos maligna e mais parva, um caçador de demónios e uma criatura loira que tanto tinha de estranha como de fascinante, eu perco-me naquela abraço apenas por ser acordado por uma pergunta que como muitas outras sobre mim, não tinham resposta.

Azulinha: o meu nome é Unga, posso saber o teu?
Eu: hmm… não me recordo.
Azulinha: e que tal se eu te chamar Skor? É o nome que sempre quis para um animal de estimação
Skor: um quê? Nem pensar que me vais torturar com aquelas coleiras e a dar-me rações que têm ar de ser pedaços de terra com um cheiro nauseabundo?
Unga: ……o quê?
Skor: … deixa estar… Skor é um bom nome
Unga: ainda bem que gostas!

Eu virei-lhe as costas e fui beber a tal água do lago. Era estranho puxa-la para a boca com a língua, mas algo dava-me a certeza que já tinha passado por coisas mais estranhas e enquanto bebia senti um toque gentil naquele pedaço de mim que agora era difícil de esquecer que existia, rodei a cabeça para trás e berrei:

Skor: qual é o teu fascínio por a minha cauda?
Unga: já a vistes bem? É tão fofinha tão peluda, podia estar agarrada a ela o dia todo!

Movi a cauda para fora das mãos dela e aproximei-me dela, observando os seus olhos que continuavam a brilhar por a mesma estranha razão.

Skor: há algo que tu não me estás a dizer.
Unga: verdade, mas só te vou contar se concordares em voltar para a minha aldeia comigo.
Skor: tens algum galinheiro por lá?
Unga: sim.
Skor: então não posso recusar! Vamos!

E assim partimos seguindo um rumo que eu desconhecia, por entre parvoíces e correrias chegamos à tal aldeia. E o cenário não foi bonito, fumo surgia das varias cabanas, encontravam-se corpos no chão, baldes derrubados, jarras de flores deslocadas do seu sitio e varias criaturas iguais á minha nova amiga corriam de um lado para o outro apagando os fogos, enquanto outros enterravam os corpos e outros davam gomas aqueles que trabalhavam.

Um arrepio percorreu-me a espinha. Este ataque tinha sido demasiado familiar para eu ignorar.

3 comentários:

Lunático disse...

Como seria se o Vargtid escrevesse uma história com as proporções da do Withered Leaves mas com a descontração e sentido de humor do Imperialium? Este post é a resposta a essa pergunta!

Numa possível história tão épica como séria, resolveste tirar a segunda característica ao adicionar partes cómicas inesperadas e fizeste tu muito bem!

O humor aqui presente não tende para o nonsense completo, como é o nosso hábito, o que, de certo modo, veio trazer uma lufada de ar fresco aos tipos de posts que se encontram por cá. Pelo menos é o que acho.

E pronto... Agora só falto eu, o Ruben, o Abutre, o 4oRbIdd3N e o Ice_Mind fazermos a nossa estreia como Animais Imperialistas.

Bom post! "Bons blogs!"

Anuket disse...

EStá sem dúvida muito épica, e eu gosto disso!Parece-me o inicio de uma grande história...não te esqueças de pôr romance porque nós aqui falamos pouco disso!Temos que mostrar que nós imperialistas não vivemos ó para o trabalho...mas faz tu isso tá?:P

Continua!

Boa postada!

anuket*

Ps: tens uma cauda fofinha!!!!weeee!!! elas adoram...será a Unga mesmo ruiva?

Nerzhul disse...

Neste post só faltava o "I think this is the beginning of a beautiful friendship". É simples, absurdo, bonito e eficaz. Consegue até ser poético em certas alturas e com isso cria um género original no Imperialium que vai fazer muito sucesso. Ou assim se espera.

Bom Post!