segunda-feira, março 08, 2004

Metáforas à volta de “MAR 2008”

Como uma maldição, a pilha acarreta esse fardo, o profeta do termo da sua vida, para o resto da sua curta existência.
O que acontecerá até 2008 ninguém sabe. Sabe-se somente que esta pilha não durará para além desse prazo. Até 2008 morrerão pessoas sem qualquer aviso prévio, acontecerão acidentes que ninguém está à espera, haverão novas descobertas, novas invenções, novas vidas. Apesar de ninguém conseguir antever ou confirmar o que foi acima exposto, é previsível que em quatro anos aconteçam tais coisas. Consegue-se ainda prever que uma pilha, uma insignificante pilha, cessará a sua existência a partir de Março de 2008, uma previsão incerta, dúbia, visto que há excepções: certamente existirão pilhas que irão durar muito para além dessa data, outras, ficarão à quem das expectativas proporcionadas por este prazo de validade. A verdade é que as pilhas foram feitas de modo a não derramar antes dessa data.
Todos os dias, a pilha não vive, existe. Limita-se a existir para servir o ser que a fabricou e, no entanto, continua a existir ingenuamente. Existirá até àquela data. No final da sua existência, a pilha aperceber-se-á que viveu uma mentira. O ser superior não existe, e a sua vida em vão, consistiu em servir uma ilusão.
E se nós tivéssemos também um prazo de validade? Suponhamos que era possível saber a altura da nossa morte, e o preço desse conhecimento era andar com essa data afixada na testa. Conseguiam viver com esse fado atrás de vós? A pilha conseguiria se existisse verdadeiramente. E se, como acontece com a pilha, a margem de erro daquela previsão fosse de 3 anos, havendo a possibilidade de morrermos 3 anos antes do que estava previsto? Faria alguma diferença? Para a pilha certamente não faria. Faria sim para a pessoa que a pilha serve.. De forma análoga, faremos nós alguma diferença para alguém? Para as pessoas que nos rodeiam? Ou talvez para o criador que servimos?
Tudo aquilo que significa algo para nós e tudo aquilo que não significa nada, pode desaparecer em segundos, anos antes do nosso “prazo de validade” expirar. Ou então, desaparecer em segundos ou horas, ou em dias ou meses de sofrimento, quando nos tornarmos obsoletos, na altura em que chegar a nossa hora, o dia em que o prazo de validade for ultrapassado. Em todo o caso desaparecerá. O que nos separa dessa altura são escassos segundos ou largos anos. Ninguém sabe. Sabe-se sim que a pilha não passará de 2008. Março de 2008. É a sua sina. É o seu destino.
Também nós temos um incerto prazo de validade. Toda a gente sabe que é impossível viver até aos 120 e improvável até aos 90. Todavia, com esta estimativa, este prazo de validade chamado de esperança média de vida, pode ser desmentido, obstruído, se eu me matar amanhã, cerca de 60 anos antes da altura prevista. Uma estimativa pela qual a humanidade se rege, que faz tanto sentido como o prazo de validade de uma pilha. E a prova disso é que a pilha se encontra gasta, e vai para o lixo já amanhã, sem chegar a usufruir de um décimo do seu prazo máximo de vida.

NZL

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